A vida como maldição.
Um barco desgovernado chega a Nova Iorque aparentemente vazio. Quando dois policiais sobem a bordo para investigá-lo, são atacados por um homem com uma estranha moléstia, comedor de carne humana. Preocupada com o sumiço do pai, a filha do proprietário do barco viaja a ilha tropical de Matul com um repórter curioso que acabara de conhecer. Na ilha, um médico tenta descobrir o mistério por trás de um bando de cadáveres que, sem qualquer explicação, voltam à vida.
Quando me falavam de Zombie 2, limitavam-se a contar sobre a famigerada cena com o tubarão (ainda bem). Qual não foi a minha surpresa quando finalmente assisti ao filme e pude tirar minhas próprias conclusões. Inicialmente, estranhei o começo lento, com atuações um tanto fleumáticas, sem qualquer sinal de crescimento. Isto me fez pensar na importância da introdução de um filme, crucial para despertar um primeiro interesse no espectador, mas em seguida percebi que este ritmo seria mantido por toda a metragem.
Diferente da agitação desenfreada comum aos filmes de zumbis, cada cena de morte é um espetáculo solitário (tendo, talvez, como um dos objetivos destacar a maquiagem de Giannetto de Rossi), muitas vezes com detalhes de encher os olhos, como na cena em que uma vítima, na tentativa de escapar do ataque de um morto-vivo, empurra uma porta contra ele. Em uma parede, o reflexo da luz que vem de fora aumenta lentamente, conforme a vítima perde a luta.
Aliás, uma forte atmosfera de fracasso e desesperança domina o filme. Richard Johnson (que também fizera um doutor em Desafio do Além, 1963) interpreta o médico desesperado com os maus resultados de sua pesquisa, e que recusa a aceitar qualquer explicação mística ao acontecimento, no freqüente conflito entre ciência e religião.
O pessimismo e a poesia de Zombie 2 me lembraram em alguns momentos um dos melhores filmes do gênero: A Morta-Viva (1943), também ambientado em uma ilha tropical. São ainda comuns aos dois filmes os personagens malditos, como se a vida (ou a entre-vida) fosse uma espécie de maldição e, a morte, desejada.
sábado, 30 de janeiro de 2010
domingo, 24 de janeiro de 2010
Hausu (1977)
Outros príncipes imperfeitos.
Com a chegada das férias, a adolescente Oshare planeja viajar com o pai, um respeitado compositor de trilhas sonoras, enquanto suas amigas da escola pretendem ir com um professor a um acampamento. Quando Oshare é informada pelo pai, por quem nutre uma paixão edipiana, de que viajarão na companhia da noiva dele, a menina se rebela e retoma o contato com uma tia, irmã de sua falecida mãe. O projeto de acampamento de suas amigas também falha, e Oshare as convida a ir passar as férias junto dela na casa de campo da tia. Chegando ao estranho lugar, o grupo é recebido pela mulher, uma senhora solitária e misteriosa. Aos poucos, a casa revela-se extremamente perigosa, assassinando as meninas uma a uma, sempre de forma grotesca.
Cultuado mundo afora pela comédia amalucada, cenas surreais, gore e sátira aos filmes de horror e artes marciais, Hausu oferece muito mais do que isso. Por trás das atitudes non-sense das personagens e da trilha sonora demasiado interferente, o filme possui uma visão fatalista sobre o amor e a entrega amorosa, propondo a desmistificação de certos contos de fada, que se tornaram, ao longo dos tempos, sinônimo de alienação e subordinação feminina.
Um dos momentos marcantes de Hausu: devaneios de uma cabeça decepada.
Mas não espere por um filme feminista. Hausu se apropria da característica tipicamente setentista da exploração. Coloca em conflito dois gêneros de destaque naquela década, os já citados filmes de horror e de artes marciais. Uma das personagens, uma menina apelidada de “Kung Fu”, protagoniza algumas das cenas mais absurdas e divertidas, trocando golpes com lustres e outros objetos movidos pelo sobrenatural. O sexo também é outro meio de exploração aqui, com as jovens atrizes tendo seus pequenos seios gratuitamente exibidos, além de lutar Kung Fu durante todo o filme usando apenas uma blusa e um shortinho. Em uma cena mais sofisticada, pode-se ver o conteúdo por baixo das camisolas das mocinhas através de um efeito de “chão transparente”, com a câmera filmando de baixo para cima.
Alguns outros efeitos são bastante interessantes, entre eles o flashback em formato de filme mudo, com as personagens comentando as ações dos sub-personagens, como se realmente assistissem a um filme, interessadas no que viria a seguir. É neste pequeno filme em preto e branco que conhecemos a personalidade amargurada da tia de Oshare, uma mulher cujo marido, ao ser convocado para a Segunda Guerra Mundial, prometeu voltar para casa, mas morreu em combate. Ainda no flashback, um efeito lembrou-me a cena de amor protagonizada por Rose McGowan e Freddy Rodríguez em Planeta Terror (2007), com a película incendiando tamanha a sensualidade do momento.
Hausu é uma parábola irônica e caótica sobre o amadurecimento, o amor e a decepção amorosa, um espetáculo visual de efeitos um tanto artesanais, com uma bela fotografia e atuações contidas dentro de um universo extremamente caricato. Um filme a ser redescoberto.
Com a chegada das férias, a adolescente Oshare planeja viajar com o pai, um respeitado compositor de trilhas sonoras, enquanto suas amigas da escola pretendem ir com um professor a um acampamento. Quando Oshare é informada pelo pai, por quem nutre uma paixão edipiana, de que viajarão na companhia da noiva dele, a menina se rebela e retoma o contato com uma tia, irmã de sua falecida mãe. O projeto de acampamento de suas amigas também falha, e Oshare as convida a ir passar as férias junto dela na casa de campo da tia. Chegando ao estranho lugar, o grupo é recebido pela mulher, uma senhora solitária e misteriosa. Aos poucos, a casa revela-se extremamente perigosa, assassinando as meninas uma a uma, sempre de forma grotesca.
Cultuado mundo afora pela comédia amalucada, cenas surreais, gore e sátira aos filmes de horror e artes marciais, Hausu oferece muito mais do que isso. Por trás das atitudes non-sense das personagens e da trilha sonora demasiado interferente, o filme possui uma visão fatalista sobre o amor e a entrega amorosa, propondo a desmistificação de certos contos de fada, que se tornaram, ao longo dos tempos, sinônimo de alienação e subordinação feminina.
Mas não espere por um filme feminista. Hausu se apropria da característica tipicamente setentista da exploração. Coloca em conflito dois gêneros de destaque naquela década, os já citados filmes de horror e de artes marciais. Uma das personagens, uma menina apelidada de “Kung Fu”, protagoniza algumas das cenas mais absurdas e divertidas, trocando golpes com lustres e outros objetos movidos pelo sobrenatural. O sexo também é outro meio de exploração aqui, com as jovens atrizes tendo seus pequenos seios gratuitamente exibidos, além de lutar Kung Fu durante todo o filme usando apenas uma blusa e um shortinho. Em uma cena mais sofisticada, pode-se ver o conteúdo por baixo das camisolas das mocinhas através de um efeito de “chão transparente”, com a câmera filmando de baixo para cima.
Alguns outros efeitos são bastante interessantes, entre eles o flashback em formato de filme mudo, com as personagens comentando as ações dos sub-personagens, como se realmente assistissem a um filme, interessadas no que viria a seguir. É neste pequeno filme em preto e branco que conhecemos a personalidade amargurada da tia de Oshare, uma mulher cujo marido, ao ser convocado para a Segunda Guerra Mundial, prometeu voltar para casa, mas morreu em combate. Ainda no flashback, um efeito lembrou-me a cena de amor protagonizada por Rose McGowan e Freddy Rodríguez em Planeta Terror (2007), com a película incendiando tamanha a sensualidade do momento.
Hausu é uma parábola irônica e caótica sobre o amadurecimento, o amor e a decepção amorosa, um espetáculo visual de efeitos um tanto artesanais, com uma bela fotografia e atuações contidas dentro de um universo extremamente caricato. Um filme a ser redescoberto.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Contos do Dia das Bruxas (2008)
Poucos doces e muitas travessuras.
Há algum tempo li sobre Contos do Dia das Bruxas no IMDB e fiquei ansiosa, aguardando pelo lançamento do filme no país. Porém, ele nunca fora lançado nos cinemas, sendo distribuído diretamente em DVD. Em uma visita recente à locadora, encontrei o filme na prateleira e o trouxe para casa.
Tendo como ambientação o Dia das Bruxas, claro, são narradas cinco curtas histórias: na introdução, um casal desaforado apaga a vela de uma abóbora antes da meia-noite e é atacado; na primeira história, uma turma de moças insiste para que a mais jovem delas perca a virgindade, expondo a menina aos caprichos de um estranho; em outra, um garoto é assassinado brutalmente ao entrar numa casa à procura de doces; na história seguinte, um grupo de crianças visita uma pedreira abandonada para homenagear os mortos em um acidente; e, no último conto, um velho rabugento recebe a visita de um célebre personagem da data.
Anna Paquin fantasiada de Chapeuzinho Vermelho.
Integrando o atraente elenco de Contos do Dia das Bruxas estão Anna Paquin e Dylan Baker. Este, que faz aqui um assassino de crianças, interpretou um pedófilo em uma de suas atuações mais corajosas, no zombeteiro Felicidade (1998), de Todd Solondz; ela, ganhadora do Oscar de atriz coadjuvante com apenas 11 anos, por O Piano (1993), é mais carismática do que talentosa, mas tem se destacado pela famosa série televisiva True Blood. Michael Dougherty, roteirista dos arrasa-quarteirões X-Men 2 e Superman: o Retorno, faz com este filme de horror sua estréia no longa-metragem. Em 1996, o diretor realizara um curta chamado Season’s Greetings (assista logo abaixo), uma macabra animação que já versava sobre o tema do Halloween. Apesar da pouca duração, o filme antecipa ainda uma característica bastante presente no primeiro longa de Dougherty: a reviravolta, a surpresa.
Uma solução ingênua, um tanto desgastada, mas ainda de efeito. Este e outros detalhes inevitavelmente remetem a quadrinhos como Tales From the Crypt (no Brasil, Cripta do Terror), deliciosa leitura sensacionalista publicada pela EC Comics nos anos 50. Também como nos quadrinhos, o filme possui boa dose de violência visual, morbidez, além de uma pitada de sensualidade (na verdade, ingredientes quase que indispensáveis para um filme de horror de sucesso desde a década de 60, com a internacionalização do gênero no cinema).
Assim, Contos do Dia das Bruxas já nasceu clássico. Resgata o horror sobrenatural, onírico, quase pueril (31 de outubro, aliás, é uma data de interesse essencialmente infantil). Um deleite em tempos de torture porns que competem na categoria “realismo”, onde violência e drama se misturam na busca pelo choque, formando a nova vertente do horror. Mas o filme em questão não é apenas saudosista. Suas divertidas subtramas são conduzidas corretamente e se conectam em um final ameaçador com a pretensão de ensinar sobre os reais significados do Dia das Bruxas.
Há algum tempo li sobre Contos do Dia das Bruxas no IMDB e fiquei ansiosa, aguardando pelo lançamento do filme no país. Porém, ele nunca fora lançado nos cinemas, sendo distribuído diretamente em DVD. Em uma visita recente à locadora, encontrei o filme na prateleira e o trouxe para casa.
Tendo como ambientação o Dia das Bruxas, claro, são narradas cinco curtas histórias: na introdução, um casal desaforado apaga a vela de uma abóbora antes da meia-noite e é atacado; na primeira história, uma turma de moças insiste para que a mais jovem delas perca a virgindade, expondo a menina aos caprichos de um estranho; em outra, um garoto é assassinado brutalmente ao entrar numa casa à procura de doces; na história seguinte, um grupo de crianças visita uma pedreira abandonada para homenagear os mortos em um acidente; e, no último conto, um velho rabugento recebe a visita de um célebre personagem da data.
Integrando o atraente elenco de Contos do Dia das Bruxas estão Anna Paquin e Dylan Baker. Este, que faz aqui um assassino de crianças, interpretou um pedófilo em uma de suas atuações mais corajosas, no zombeteiro Felicidade (1998), de Todd Solondz; ela, ganhadora do Oscar de atriz coadjuvante com apenas 11 anos, por O Piano (1993), é mais carismática do que talentosa, mas tem se destacado pela famosa série televisiva True Blood. Michael Dougherty, roteirista dos arrasa-quarteirões X-Men 2 e Superman: o Retorno, faz com este filme de horror sua estréia no longa-metragem. Em 1996, o diretor realizara um curta chamado Season’s Greetings (assista logo abaixo), uma macabra animação que já versava sobre o tema do Halloween. Apesar da pouca duração, o filme antecipa ainda uma característica bastante presente no primeiro longa de Dougherty: a reviravolta, a surpresa.
Uma solução ingênua, um tanto desgastada, mas ainda de efeito. Este e outros detalhes inevitavelmente remetem a quadrinhos como Tales From the Crypt (no Brasil, Cripta do Terror), deliciosa leitura sensacionalista publicada pela EC Comics nos anos 50. Também como nos quadrinhos, o filme possui boa dose de violência visual, morbidez, além de uma pitada de sensualidade (na verdade, ingredientes quase que indispensáveis para um filme de horror de sucesso desde a década de 60, com a internacionalização do gênero no cinema).
Assim, Contos do Dia das Bruxas já nasceu clássico. Resgata o horror sobrenatural, onírico, quase pueril (31 de outubro, aliás, é uma data de interesse essencialmente infantil). Um deleite em tempos de torture porns que competem na categoria “realismo”, onde violência e drama se misturam na busca pelo choque, formando a nova vertente do horror. Mas o filme em questão não é apenas saudosista. Suas divertidas subtramas são conduzidas corretamente e se conectam em um final ameaçador com a pretensão de ensinar sobre os reais significados do Dia das Bruxas.
domingo, 17 de janeiro de 2010
Premonição 4
Déjà vu.
O que as pessoas esperam de Premonição 4? Ou como gostariam que o filme fosse? Eu imaginava exatamente como ele seria (provavelmente vocês também) e, bem, o filme correspondeu às minhas expectativas.
O cenário já foi um avião, uma rodovia, uma montanha-russa e, agora, um autódromo. Carros em alta velocidade, tábuas podres, paredes rachadas, parafusos frouxos, óleo derramado... Bastam alguns desses elementos para acontecer uma série de mortes em seqüência, uma verdadeira catástrofe. Mas o jovem Nick (Bobby Campo) tem uma premonição. Prevê o que acontecerá e evita sua morte e de seus amigos ao escapar com eles para longe do autódromo. Porém, a Morte não é facilmente enganada. Persegue os sobreviventes um a um, na ordem em que cada um deles morreria originalmente, para concluir sua tarefa interrompida. Resta a eles entender a estratégia da Morte e tentar lhe passar a perna mais uma vez através de planos nem sempre bem sucedidos.
Sim, você já viu este filme. Exceto por alguns pequenos detalhes discrepantes, como, claro, uma nova gama de mortes, cada vez mais grotescas e explícitas. Elenco carismático, aqui, está em falta. Bobby Campo, o ator principal, é completamente inexpressivo e transparece extrema afetação na tentativa de uma interpretação mais intensa. Os melhores desempenhos, por incrível que pareça, são dos atores que formam o casal coadjuvante, antipático, mas que diverte com seus comentários tolos.
A Morte persegue sua vítima em um lava-a-jato.
A comédia, aliás, é o ponto forte do filme. Felizmente, é mantido o bom humor da série que se auto-parodia desde o segundo exemplar. Os momentos cômicos aliviam um roteiro que, de tão vazio, é incômodo, e torna inevitável a sensação de que estamos sendo enganados, assistindo sempre ao retrocesso de um mesmo filme.
Contudo, o título original traz um discreto, mas perceptível “the” no início, parecendo tratar-se do filme definitivo, o encerramento da franquia – seria esta, finalmente, “a” premonição? Isso é reforçado com um final sarcástico e pessimista, como se declarasse que foram necessários quatro exemplares para descobrir que, não, não é possível escapar da Morte. O ápice de Premonição 4 vai mais além na questão de estarmos sempre expostos ao risco da morte, sugerindo que uma ameaça real pode facilmente estar em uma sala de cinema. Lembrou-me da teoria de que o cinema de terror atrairia as pessoas por proporcionar a adrenalina de uma situação de risco, mas, ao mesmo tempo, os espectadores teriam a consciência de que estão protegidos. Bem, talvez não estejamos tão protegidos assim.
Na minha opinião, seria bem-vindo um retorno da série com uma nova abordagem ou até novas regras. Poderia ser uma surpresa positiva. Mas, o que espera o público de um filme como este? Talvez sinta-se mais seguro sabendo o que esperar e tendo suas expectativas correspondidas.
O que as pessoas esperam de Premonição 4? Ou como gostariam que o filme fosse? Eu imaginava exatamente como ele seria (provavelmente vocês também) e, bem, o filme correspondeu às minhas expectativas.
O cenário já foi um avião, uma rodovia, uma montanha-russa e, agora, um autódromo. Carros em alta velocidade, tábuas podres, paredes rachadas, parafusos frouxos, óleo derramado... Bastam alguns desses elementos para acontecer uma série de mortes em seqüência, uma verdadeira catástrofe. Mas o jovem Nick (Bobby Campo) tem uma premonição. Prevê o que acontecerá e evita sua morte e de seus amigos ao escapar com eles para longe do autódromo. Porém, a Morte não é facilmente enganada. Persegue os sobreviventes um a um, na ordem em que cada um deles morreria originalmente, para concluir sua tarefa interrompida. Resta a eles entender a estratégia da Morte e tentar lhe passar a perna mais uma vez através de planos nem sempre bem sucedidos.
Sim, você já viu este filme. Exceto por alguns pequenos detalhes discrepantes, como, claro, uma nova gama de mortes, cada vez mais grotescas e explícitas. Elenco carismático, aqui, está em falta. Bobby Campo, o ator principal, é completamente inexpressivo e transparece extrema afetação na tentativa de uma interpretação mais intensa. Os melhores desempenhos, por incrível que pareça, são dos atores que formam o casal coadjuvante, antipático, mas que diverte com seus comentários tolos.
A comédia, aliás, é o ponto forte do filme. Felizmente, é mantido o bom humor da série que se auto-parodia desde o segundo exemplar. Os momentos cômicos aliviam um roteiro que, de tão vazio, é incômodo, e torna inevitável a sensação de que estamos sendo enganados, assistindo sempre ao retrocesso de um mesmo filme.
Contudo, o título original traz um discreto, mas perceptível “the” no início, parecendo tratar-se do filme definitivo, o encerramento da franquia – seria esta, finalmente, “a” premonição? Isso é reforçado com um final sarcástico e pessimista, como se declarasse que foram necessários quatro exemplares para descobrir que, não, não é possível escapar da Morte. O ápice de Premonição 4 vai mais além na questão de estarmos sempre expostos ao risco da morte, sugerindo que uma ameaça real pode facilmente estar em uma sala de cinema. Lembrou-me da teoria de que o cinema de terror atrairia as pessoas por proporcionar a adrenalina de uma situação de risco, mas, ao mesmo tempo, os espectadores teriam a consciência de que estão protegidos. Bem, talvez não estejamos tão protegidos assim.
Na minha opinião, seria bem-vindo um retorno da série com uma nova abordagem ou até novas regras. Poderia ser uma surpresa positiva. Mas, o que espera o público de um filme como este? Talvez sinta-se mais seguro sabendo o que esperar e tendo suas expectativas correspondidas.
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Sherlock Holmes (2009)
Os Aventureiros de Londres.
Enfrentei um verdadeiro dilema sobre escrever ou não um texto sobre Sherlock Holmes. Os poucos comentários que li e ouvi foram sempre os mesmos, e quase sempre correspondiam ao que eu pensava. Eu não queria chegar aqui com um texto óbvio, mas aqui estou eu, torcendo para que o texto não esteja tão óbvio assim!
Assim como a maioria dos fãs de mistério, cresci adorando histórias de detetives. Minha paixão evoluiu quando conheci os textos de Arthur Conan Doyle e seu personagem fascinante. Personagens fascinantes, aliás. Mesmo secundários, cada um dos personagens parecem pessoas perfeitamente possíveis, tamanha a complexidade de suas personalidades, com hábitos, manias e caracteres únicos.
Fui mais uma entre os fãs conservadores que torceram o nariz ao saber da nova adaptação das histórias de Holmes às telas. O trailer só piorou minhas impressões ao enfatizar a faceta “macho man” do detetive, mas, ainda assim, me pareceu uma transição respeitosa.
É complicado, depois de habituar-se à fisionomia de atores como Basil Rathbone e Peter Cushing, assimilar um Holmes como Robert Downey Jr., mas é possível. Seu Holmes é durão, excêntrico, palhaço e sentimental. Possui um sentimento, digamos, acentuado pelo amigo Watson, cujo noivado o incomoda fortemente. É deixada de lado a fleuma britânica e Holmes revela-se mais humano. Eu já disse durão?
Holmes sempre pronto para a porrada.
Destaque em demasia é dado às cenas de luta, sempre presentes nos momentos mais importantes da narrativa, mas, o que esperar de um filme de Guy Ritchie? A capacidade de dedução de Holmes aliada a golpes contundentes e muita câmera lenta, para o espectador poder apreciar em detalhes o monte de ossos quebrados.
A trama, sobre o líder de uma seita de magia negra e o seu retorno da tumba, beira o infantil. Não pelo suposto teor sobrenatural, claro, mas porque não há qualquer aprofundamento; o inimigo que supostamente apavora a população londrina não transparece qualquer ameaça. Como bem lembrou o Ailton, este tipo de vilão é característico da saga infanto-juvenil Harry Potter (com todo o respeito a Ralph Fiennes). Já as cenas de aventura possuem a complexidade e o teor recreativo da série Piratas do Caribe, com ações tão rápidas, que confundem os olhos do pobre espectador despreparado.
Sherlock Holmes entretém. Afinal, seria necessário um enorme empenho coletivo para fazer com que uma adaptação sobre o detetive mais interessante da literatura mundial fosse por água abaixo. Mas, honestamente, eu estava ansiosa por momentos climáticos, menos agitados, por mais atenção às investigações, aos assassinatos; um mistério instigante. O que obtive foi uma história de ação e aventura que quase remete aos filme de Chuck Norris (que não respeito coisa nenhuma).
Enfrentei um verdadeiro dilema sobre escrever ou não um texto sobre Sherlock Holmes. Os poucos comentários que li e ouvi foram sempre os mesmos, e quase sempre correspondiam ao que eu pensava. Eu não queria chegar aqui com um texto óbvio, mas aqui estou eu, torcendo para que o texto não esteja tão óbvio assim!
Assim como a maioria dos fãs de mistério, cresci adorando histórias de detetives. Minha paixão evoluiu quando conheci os textos de Arthur Conan Doyle e seu personagem fascinante. Personagens fascinantes, aliás. Mesmo secundários, cada um dos personagens parecem pessoas perfeitamente possíveis, tamanha a complexidade de suas personalidades, com hábitos, manias e caracteres únicos.
Fui mais uma entre os fãs conservadores que torceram o nariz ao saber da nova adaptação das histórias de Holmes às telas. O trailer só piorou minhas impressões ao enfatizar a faceta “macho man” do detetive, mas, ainda assim, me pareceu uma transição respeitosa.
É complicado, depois de habituar-se à fisionomia de atores como Basil Rathbone e Peter Cushing, assimilar um Holmes como Robert Downey Jr., mas é possível. Seu Holmes é durão, excêntrico, palhaço e sentimental. Possui um sentimento, digamos, acentuado pelo amigo Watson, cujo noivado o incomoda fortemente. É deixada de lado a fleuma britânica e Holmes revela-se mais humano. Eu já disse durão?
Destaque em demasia é dado às cenas de luta, sempre presentes nos momentos mais importantes da narrativa, mas, o que esperar de um filme de Guy Ritchie? A capacidade de dedução de Holmes aliada a golpes contundentes e muita câmera lenta, para o espectador poder apreciar em detalhes o monte de ossos quebrados.
A trama, sobre o líder de uma seita de magia negra e o seu retorno da tumba, beira o infantil. Não pelo suposto teor sobrenatural, claro, mas porque não há qualquer aprofundamento; o inimigo que supostamente apavora a população londrina não transparece qualquer ameaça. Como bem lembrou o Ailton, este tipo de vilão é característico da saga infanto-juvenil Harry Potter (com todo o respeito a Ralph Fiennes). Já as cenas de aventura possuem a complexidade e o teor recreativo da série Piratas do Caribe, com ações tão rápidas, que confundem os olhos do pobre espectador despreparado.
Sherlock Holmes entretém. Afinal, seria necessário um enorme empenho coletivo para fazer com que uma adaptação sobre o detetive mais interessante da literatura mundial fosse por água abaixo. Mas, honestamente, eu estava ansiosa por momentos climáticos, menos agitados, por mais atenção às investigações, aos assassinatos; um mistério instigante. O que obtive foi uma história de ação e aventura que quase remete aos filme de Chuck Norris (que não respeito coisa nenhuma).
domingo, 10 de janeiro de 2010
Grace (2009)
Padecer no paraíso?
Desde que O Bebê de Rosemary (1969) sugeriu ao mundo que o anticristo poderia estar se desenvolvendo no útero de qualquer gestante incauta, o cinema passou a enxergar o macabro no fascinante universo da gestação, da maternidade. Além deste clássico absoluto do cinema de horror, outros filmes sobre o tema tornaram-se cultuados, como Nasce um Monstro (1974), de Larry Cohen, e Eraserhead (1977) e Otesánek (2000), dos mestres do bizarro David Lynch e Jan Svankmajer. Contudo, ao assistir Grace, foi outro filme que me veio à memória: Dead of Night, de Bob Clark, sobre um rapaz morto na Guerra do Vietnã que, de tanto a mãe desejar que volte para casa, ele volta. Morto-vivo.
Em Grace, Madeline é uma mulher obcecada em ter um filho. Após uma série de tratamentos para fertilidade, dois abortos e anos levando um casamento apenas por conveniência, ela engravida. A mulher contraria a sogra controladora e se recusa a ir a hospitais convencionais devido às suas ideologias naturebas e escolhe ser atendida por uma parteira, antiga amante sua. Após um acidente de carro em que o marido de Madeline morre, a mulher perde mais um bebê, mas decide pari-lo mesmo assim, na hora certa. Surpreendendo a todos, o bebê volta à vida minutos após o nascimento, mas possui um estranho apetite por sangue.
Madeline segura o bebê natimorto.
Os novos filmes sobre o horror na maternidade se destacam pela forma como transformam a estada no paraíso em uma verdadeira descida ao inferno. Depressão e psicose pós-parto, entre outras enfermidades comuns às mulheres parturientes são exploradas com crueza em exemplares recentes como Vidas Passadas (2006), Filha das Sombras (2007) e Herança Maldita (2008). Grace era outro desses títulos promissores, mas decepcionou. A tensão, elemento crucial para uma narrativa que se propõe tão intimista, é seriamente prejudicada pela antipatia da protagonista, uma mulher frígida (em todos os aspectos), apática e viciada em documentários sobre matanças de animais, sendo superada apenas pela personagem de sua sogra, a qual esbanja hipocrisia e sordidez.
Falta ainda sutileza à história, que não evolui em etapas, tornando óbvio desde a primeira metade o que virá a seguir. Com isso, achei que o filme possui pouquíssimos momentos relevantes, arrastando-se intensamente em cada um deles; até que um amigo me contou que Grace, originalmente, é um curta-metragem, realizado em 2006. É inevitável pensar que o processo de adaptação para uma metragem mais longa não foi completamente bem-sucedido. Outra coisa que me incomodou foi a atenção dada ao antigo romance homossexual da protagonista, que parece absolutamente dispensável até a conclusão, onde se justifica em um final mais do que caricato. Para quem aprecia um bom banho de sangue e cenas aflitivas de dor, este é o filme indicado.
Desde que O Bebê de Rosemary (1969) sugeriu ao mundo que o anticristo poderia estar se desenvolvendo no útero de qualquer gestante incauta, o cinema passou a enxergar o macabro no fascinante universo da gestação, da maternidade. Além deste clássico absoluto do cinema de horror, outros filmes sobre o tema tornaram-se cultuados, como Nasce um Monstro (1974), de Larry Cohen, e Eraserhead (1977) e Otesánek (2000), dos mestres do bizarro David Lynch e Jan Svankmajer. Contudo, ao assistir Grace, foi outro filme que me veio à memória: Dead of Night, de Bob Clark, sobre um rapaz morto na Guerra do Vietnã que, de tanto a mãe desejar que volte para casa, ele volta. Morto-vivo.
Em Grace, Madeline é uma mulher obcecada em ter um filho. Após uma série de tratamentos para fertilidade, dois abortos e anos levando um casamento apenas por conveniência, ela engravida. A mulher contraria a sogra controladora e se recusa a ir a hospitais convencionais devido às suas ideologias naturebas e escolhe ser atendida por uma parteira, antiga amante sua. Após um acidente de carro em que o marido de Madeline morre, a mulher perde mais um bebê, mas decide pari-lo mesmo assim, na hora certa. Surpreendendo a todos, o bebê volta à vida minutos após o nascimento, mas possui um estranho apetite por sangue.
Os novos filmes sobre o horror na maternidade se destacam pela forma como transformam a estada no paraíso em uma verdadeira descida ao inferno. Depressão e psicose pós-parto, entre outras enfermidades comuns às mulheres parturientes são exploradas com crueza em exemplares recentes como Vidas Passadas (2006), Filha das Sombras (2007) e Herança Maldita (2008). Grace era outro desses títulos promissores, mas decepcionou. A tensão, elemento crucial para uma narrativa que se propõe tão intimista, é seriamente prejudicada pela antipatia da protagonista, uma mulher frígida (em todos os aspectos), apática e viciada em documentários sobre matanças de animais, sendo superada apenas pela personagem de sua sogra, a qual esbanja hipocrisia e sordidez.
Falta ainda sutileza à história, que não evolui em etapas, tornando óbvio desde a primeira metade o que virá a seguir. Com isso, achei que o filme possui pouquíssimos momentos relevantes, arrastando-se intensamente em cada um deles; até que um amigo me contou que Grace, originalmente, é um curta-metragem, realizado em 2006. É inevitável pensar que o processo de adaptação para uma metragem mais longa não foi completamente bem-sucedido. Outra coisa que me incomodou foi a atenção dada ao antigo romance homossexual da protagonista, que parece absolutamente dispensável até a conclusão, onde se justifica em um final mais do que caricato. Para quem aprecia um bom banho de sangue e cenas aflitivas de dor, este é o filme indicado.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
May: Obsessão Assassina (2002)
Príncipe imperfeito.
Sempre que me recomendam um filme dizendo “você vai adorar”, me empolgo para assisti-lo, pois alguns dos meus interesses são um tanto específicos e, felizmente, certas pessoas me conhecem bem o suficiente para percebê-los em alguns filmes. Quando comecei a assistir May, lamentei o fato de não tê-lo assistido antes, mas lamentei ainda mais o fato de tê-lo assistido, pois eu adoraria poder vê-lo novamente pela primeira vez.
May é uma menina que sofre de estrabismo. Para evitar que a filha passe qualquer constrangimento entre os colegas, a mãe da menina faz com que ela use um tapa-olho. A estratégia não funciona, então a mulher dá para a filha uma boneca, dizendo que aquela será sua melhor amiga. May cresce sem amigos, completamente anti-social, na companhia apenas daquela boneca que jamais pôde tirar da caixa devido ao esmero da mãe. Já adulta, ela vive sozinha e trabalha em uma clínica veterinária. Ela se apaixona por um rapaz e, apesar da timidez e dificuldade de comunicação, consegue conquistá-lo. Em um dos primeiros encontros dos dois, May revela ser influenciada pelos conselhos (nem sempre bons) da boneca. Quando o rapaz percebe na namorada sua natureza instável afasta-se de seu convívio para proteger-se, mas é tarde demais, o vidro que protege a boneca começara a rachar.
Angela Bettis no papel de May. A atriz interpretou no mesmo ano Carrie, a estranha, em um telefilme.
Não, este não é um filme sobre bonecos assassinos, mas uma bela metáfora para o amadurecimento e a solidão. Filmes em que a loucura se confunde com a realidade ou dá margem a possibilidades fantásticas são, quando bem trabalhados, uma surpresa deliciosa. Quando May se torna, finalmente, independente da mãe autoritária, expõe-se ao mundo e suas adversidades, entre elas a decepção amorosa. Em alguns momentos, o filme me lembrou o espanhol O Espírito da Colméia (1973), em especial a imagem da criança solitária e, claro, a linda referência à criatura de Frankenstein. Acho sempre interessante assistir a boas histórias sobre outsiders, principalmente quando há tão bom desenvolvimento da personagem. A confusão proposital sobre haver ou não sobrenatural enriquece ainda mais a trama, deixando sua conclusão terna e onírica, tornando mais do que justificável um banho de sangue. Aliás, é admirável a capacidade de manipulação do diretor, o cuidado com o qual desenvolve o roteiro de sua autoria, fazendo com que este banho de sangue assemelhe-se a uma história infantil de final feliz, ainda que tortuoso.
O filme pode ser "locado" através de download pela Saraiva ou o DVD comprado pela bagatela de R$9,00. Quem sabe ainda uma dobradinha? May e Diabólica em um só DVD.
Sempre que me recomendam um filme dizendo “você vai adorar”, me empolgo para assisti-lo, pois alguns dos meus interesses são um tanto específicos e, felizmente, certas pessoas me conhecem bem o suficiente para percebê-los em alguns filmes. Quando comecei a assistir May, lamentei o fato de não tê-lo assistido antes, mas lamentei ainda mais o fato de tê-lo assistido, pois eu adoraria poder vê-lo novamente pela primeira vez.
May é uma menina que sofre de estrabismo. Para evitar que a filha passe qualquer constrangimento entre os colegas, a mãe da menina faz com que ela use um tapa-olho. A estratégia não funciona, então a mulher dá para a filha uma boneca, dizendo que aquela será sua melhor amiga. May cresce sem amigos, completamente anti-social, na companhia apenas daquela boneca que jamais pôde tirar da caixa devido ao esmero da mãe. Já adulta, ela vive sozinha e trabalha em uma clínica veterinária. Ela se apaixona por um rapaz e, apesar da timidez e dificuldade de comunicação, consegue conquistá-lo. Em um dos primeiros encontros dos dois, May revela ser influenciada pelos conselhos (nem sempre bons) da boneca. Quando o rapaz percebe na namorada sua natureza instável afasta-se de seu convívio para proteger-se, mas é tarde demais, o vidro que protege a boneca começara a rachar.
Não, este não é um filme sobre bonecos assassinos, mas uma bela metáfora para o amadurecimento e a solidão. Filmes em que a loucura se confunde com a realidade ou dá margem a possibilidades fantásticas são, quando bem trabalhados, uma surpresa deliciosa. Quando May se torna, finalmente, independente da mãe autoritária, expõe-se ao mundo e suas adversidades, entre elas a decepção amorosa. Em alguns momentos, o filme me lembrou o espanhol O Espírito da Colméia (1973), em especial a imagem da criança solitária e, claro, a linda referência à criatura de Frankenstein. Acho sempre interessante assistir a boas histórias sobre outsiders, principalmente quando há tão bom desenvolvimento da personagem. A confusão proposital sobre haver ou não sobrenatural enriquece ainda mais a trama, deixando sua conclusão terna e onírica, tornando mais do que justificável um banho de sangue. Aliás, é admirável a capacidade de manipulação do diretor, o cuidado com o qual desenvolve o roteiro de sua autoria, fazendo com que este banho de sangue assemelhe-se a uma história infantil de final feliz, ainda que tortuoso.
O filme pode ser "locado" através de download pela Saraiva ou o DVD comprado pela bagatela de R$9,00. Quem sabe ainda uma dobradinha? May e Diabólica em um só DVD.
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
A Volta dos Mortos-Vivos (1985) & Pontypool (2008)
Dois filmes diferentes, mas bem parecidos.
(Ou um texto cheio de conjunções adversativas.)
Um dos subgêneros mais adaptáveis do horror, certamente, é o filme de zumbi. Relacionado originalmente ao vodu haitiano, o cinema apropriou-se destes cadáveres redivivos e criou uma onda de filmes com infinitas possibilidades. Porém, ainda que dinâmico, o filme de zumbi acaba quase que sempre caindo em um lugar-comum: a propriedade de filme-denúncia, abordando em especial as questões sociais.
Ontem assisti a dois exemplares do subgênero: o cultuado A Volta dos Mortos-Vivos e o comentado Pontypool. O primeiro, ainda que um tanto datado devido à música, ao figurino e a outros exageros oitentistas, é um marco na filmografia dos mortos-vivos e virou referência constante na cultura pop mundial.
Um simpático zumbi animatrônico em A Volta dos Mortos-Vivos.
Em A Volta dos Mortos-Vivos, um descuidado funcionário de um depósito libera uma substância química altamente agressiva, despertando todos os mortos da redondeza, onde, convenientemente, há uma casa funerária e um cemitério (adequadamente chamado Ressurreição). Um grupo de adolescentes punks acaba servindo de refeição para os cadáveres famintos de cérebro humano. A iguaria, segundo o depoimento de um zumbi capturado, alivia neles a dor de estar morto. Esta comédia não poupa excesso sequer nas atuações, extremamente barrocas, e também no apelo visual, com muitas cenas mórbidas e chocantes. Dirigido por Dan O’Bannon, responsável por roteiros de filmes como Alien, o 8º Passageiro (1979), e baseado em livro de John A. Russo, roteirista de A Noite dos Mortos-Vivos (1968), subverte algumas regras deste e recria outras, oferecendo novas possibilidades aos filmes que viessem a seguir.
Horror em widescreen.
Pontypool é um daqueles filmes que muitos taxariam como “suspense psicológico”. Os ingênuos diriam “não dá medo, não é horror”, e os preconceituosos, “é bom demais para ser horror”. Independente do que possa ser dito, possui todos os elementos de um filme de zumbi, e apresenta ainda uma solução para problemas de baixo orçamento: pequeno elenco e apenas um cenário, uma estação de rádio numa cidadezinha canadense. Toda a ação do filme limita-se ao radialista, sua produtora e uma jovem assistente, que descobrem através de um repórter que uma multidão de pessoas tem agido de forma estranha, pronunciando insistentemente certas palavras que agem como uma espécie de vírus. A partir daí, os infectados adotam uma conduta violenta, descrita pelo repórter como atos selvagens, relativos a piranhas ou a verdadeiros canibais. Nada disso é mostrado. A violência visual é mínima. Na primeira metade, ao apresentar para os espectadores as características dos personagens, o filme demora a engatar, beirando o insuportável; ainda que passe por uma evolução quase que imperceptível na segunda metade, valendo-se de muitos diálogos (o que, pela lógica da trama, deveria ser evitado!) e de poucas cenas realmente tensas.
Aqui, nota-se um discurso anti-bélico, pacifista, confirmado pela crítica à mídia sensacionalista e a participação negativa do exército (presença importante tanto neste filme, quanto em A Volta dos Mortos-Vivos). O relacionamento entre os diferentes tipos sociais e outras questões individuais, temas que enriquecem este subgênero, são também comuns aos dois exemplares.
(Ou um texto cheio de conjunções adversativas.)
Um dos subgêneros mais adaptáveis do horror, certamente, é o filme de zumbi. Relacionado originalmente ao vodu haitiano, o cinema apropriou-se destes cadáveres redivivos e criou uma onda de filmes com infinitas possibilidades. Porém, ainda que dinâmico, o filme de zumbi acaba quase que sempre caindo em um lugar-comum: a propriedade de filme-denúncia, abordando em especial as questões sociais.
Ontem assisti a dois exemplares do subgênero: o cultuado A Volta dos Mortos-Vivos e o comentado Pontypool. O primeiro, ainda que um tanto datado devido à música, ao figurino e a outros exageros oitentistas, é um marco na filmografia dos mortos-vivos e virou referência constante na cultura pop mundial.
Em A Volta dos Mortos-Vivos, um descuidado funcionário de um depósito libera uma substância química altamente agressiva, despertando todos os mortos da redondeza, onde, convenientemente, há uma casa funerária e um cemitério (adequadamente chamado Ressurreição). Um grupo de adolescentes punks acaba servindo de refeição para os cadáveres famintos de cérebro humano. A iguaria, segundo o depoimento de um zumbi capturado, alivia neles a dor de estar morto. Esta comédia não poupa excesso sequer nas atuações, extremamente barrocas, e também no apelo visual, com muitas cenas mórbidas e chocantes. Dirigido por Dan O’Bannon, responsável por roteiros de filmes como Alien, o 8º Passageiro (1979), e baseado em livro de John A. Russo, roteirista de A Noite dos Mortos-Vivos (1968), subverte algumas regras deste e recria outras, oferecendo novas possibilidades aos filmes que viessem a seguir.
Pontypool é um daqueles filmes que muitos taxariam como “suspense psicológico”. Os ingênuos diriam “não dá medo, não é horror”, e os preconceituosos, “é bom demais para ser horror”. Independente do que possa ser dito, possui todos os elementos de um filme de zumbi, e apresenta ainda uma solução para problemas de baixo orçamento: pequeno elenco e apenas um cenário, uma estação de rádio numa cidadezinha canadense. Toda a ação do filme limita-se ao radialista, sua produtora e uma jovem assistente, que descobrem através de um repórter que uma multidão de pessoas tem agido de forma estranha, pronunciando insistentemente certas palavras que agem como uma espécie de vírus. A partir daí, os infectados adotam uma conduta violenta, descrita pelo repórter como atos selvagens, relativos a piranhas ou a verdadeiros canibais. Nada disso é mostrado. A violência visual é mínima. Na primeira metade, ao apresentar para os espectadores as características dos personagens, o filme demora a engatar, beirando o insuportável; ainda que passe por uma evolução quase que imperceptível na segunda metade, valendo-se de muitos diálogos (o que, pela lógica da trama, deveria ser evitado!) e de poucas cenas realmente tensas.
Aqui, nota-se um discurso anti-bélico, pacifista, confirmado pela crítica à mídia sensacionalista e a participação negativa do exército (presença importante tanto neste filme, quanto em A Volta dos Mortos-Vivos). O relacionamento entre os diferentes tipos sociais e outras questões individuais, temas que enriquecem este subgênero, são também comuns aos dois exemplares.
domingo, 3 de janeiro de 2010
Não Adormeça (1982)
A culpa é da avó!
Um dos temas que considero mais interessantes é o horror infantil. Crianças alienígenas, crianças em perigo, crianças rancorosas, entre outros perfis. Ao ouvir falar de Não Adormeça, telefilme bastante popular no Brasil durante os anos 80 ao ser exibido e reprisado diversas vezes na televisão, fiquei ansiosa para assisti-lo.
Não bastando a fantasminha, a boneca também distribui piscadelas.
Um casal que acabou de perder a filha mais velha, Jennifer, em um acidente automobilístico muda-se com os outros dois filhos, Mary e Kevin, e a avó materna deles para uma nova casa. Logo na primeira noite da família no lugar, Mary ouve vozes sinistras que a chamam e sua cama incendeia misteriosamente. A menina percebe, então, que sua irmã morta está tentando contatá-la. Os diálogos entre as duas tornam-se perigosos quando o fantasma de Jennifer acusa seus pais de tentar afastar as duas irmãs uma da outra, e sugere que Mary livre-se de cada um dos membros da família.
Dirigido por Richard Lang, realizador que dedicou-se quase que exclusivamente a séries e filmes para a televisão, Não Adormeça corresponde às suas pretensões, e ainda oferece um pouco mais ao espectador, sugerindo uma convincente interpretação racional aos supostos encontros de Mary com a irmã morta, em um estilo de trama que alcançara a perfeição em Os Inocentes (1961). Uma personagem estigmatizada por uma educação conservadora, dogmas religiosos ou, no caso, pela culpa, em um lapso de consciência, sob a influência de outros fatores, sofre peças pregadas pela mente.
Não Adormeça possui tanto bons quanto maus momentos. Entre os melhores estão a cena com o cortador de pizza, insólita e carregada de tensão, e as aparições de Jennifer (Kristin Cumming), a fantasminha que, apesar de bastante espirituosa, soma um quê de perversidade ao distribuir piscadelas aos familiares, assustados. Ruth Gordon, no papel da avó, tem interpretação quase tão perfeita quanto a que realizara em O Bebê de Rosemary (1969), tão à vontade, que parece interpretar si mesma. Dennis Weaver e Valerie Harper, que interpretam o casal, protagonizam a maioria das cenas dispensáveis, em um exagero de discussões dramáticas sobre o destino da família que toma quase que metade da metragem. Uma preocupação absolutamente desnecessária. Ao contrário de Gordon, o restante do elenco mirim assemelha-se a adultos em miniatura com suas expressões e cacoetes nada espontâneos.
A direção traz alguns planos descuidados, que, inevitavelmente, remetem à origem do diretor. Este, aliás, dirigiu em 1984 uma refilmagem de Espelhos d’Alma (1946), sobre um psiquiatra que estuda a maldade em duas irmãs gêmeas. O filme original, de Robert Siodmark, tem a Olivia de Havilland no elenco e saiu em VHS no Brasil. Pode ser uma boa pedida para uma próxima sessão.
Um dos temas que considero mais interessantes é o horror infantil. Crianças alienígenas, crianças em perigo, crianças rancorosas, entre outros perfis. Ao ouvir falar de Não Adormeça, telefilme bastante popular no Brasil durante os anos 80 ao ser exibido e reprisado diversas vezes na televisão, fiquei ansiosa para assisti-lo.
Um casal que acabou de perder a filha mais velha, Jennifer, em um acidente automobilístico muda-se com os outros dois filhos, Mary e Kevin, e a avó materna deles para uma nova casa. Logo na primeira noite da família no lugar, Mary ouve vozes sinistras que a chamam e sua cama incendeia misteriosamente. A menina percebe, então, que sua irmã morta está tentando contatá-la. Os diálogos entre as duas tornam-se perigosos quando o fantasma de Jennifer acusa seus pais de tentar afastar as duas irmãs uma da outra, e sugere que Mary livre-se de cada um dos membros da família.
Dirigido por Richard Lang, realizador que dedicou-se quase que exclusivamente a séries e filmes para a televisão, Não Adormeça corresponde às suas pretensões, e ainda oferece um pouco mais ao espectador, sugerindo uma convincente interpretação racional aos supostos encontros de Mary com a irmã morta, em um estilo de trama que alcançara a perfeição em Os Inocentes (1961). Uma personagem estigmatizada por uma educação conservadora, dogmas religiosos ou, no caso, pela culpa, em um lapso de consciência, sob a influência de outros fatores, sofre peças pregadas pela mente.
Não Adormeça possui tanto bons quanto maus momentos. Entre os melhores estão a cena com o cortador de pizza, insólita e carregada de tensão, e as aparições de Jennifer (Kristin Cumming), a fantasminha que, apesar de bastante espirituosa, soma um quê de perversidade ao distribuir piscadelas aos familiares, assustados. Ruth Gordon, no papel da avó, tem interpretação quase tão perfeita quanto a que realizara em O Bebê de Rosemary (1969), tão à vontade, que parece interpretar si mesma. Dennis Weaver e Valerie Harper, que interpretam o casal, protagonizam a maioria das cenas dispensáveis, em um exagero de discussões dramáticas sobre o destino da família que toma quase que metade da metragem. Uma preocupação absolutamente desnecessária. Ao contrário de Gordon, o restante do elenco mirim assemelha-se a adultos em miniatura com suas expressões e cacoetes nada espontâneos.
A direção traz alguns planos descuidados, que, inevitavelmente, remetem à origem do diretor. Este, aliás, dirigiu em 1984 uma refilmagem de Espelhos d’Alma (1946), sobre um psiquiatra que estuda a maldade em duas irmãs gêmeas. O filme original, de Robert Siodmark, tem a Olivia de Havilland no elenco e saiu em VHS no Brasil. Pode ser uma boa pedida para uma próxima sessão.
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
Lá vamos nós novamente!
Após anos planejando retomar meu blog de cinema, resolvi esperar apenas mais um pouco, até o início do ano, para recomeçar de forma organizada. Algumas coisas mudaram de lá pra cá. Tenho visto quase que exclusivamente filmes de horror. Sempre gostei de filmes de horror (na adolescência, fui uma expectadora assídua de slashers) e, em 2006, conheci o jornalista Carlos Primati, que editara há algum tempo a Cine Monstro, uma revista especializada no gênero. Sabendo do meu interesse pela escrita cinematográfica, ele me convidou a participar de vários projetos relacionados ao terror, aos quais seguimos nos dedicando. Um pouco mais tarde, conheci Laura Cánepa, estudiosa do horror nacional, com quem tem sido estimulante discutir sobre o assunto.
Planejo escrever neste blog sobre os filmes que ando assistindo, falar sobre estréias e outras novidades relacionadas a esse mundo obscuro que tanto adoramos.
No mais, tenham todos um ano horroroso! ;)
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