Sempre que me recomendam um filme dizendo “você vai adorar”, me empolgo para assisti-lo, pois alguns dos meus interesses são um tanto específicos e, felizmente, certas pessoas me conhecem bem o suficiente para percebê-los em alguns filmes. Quando comecei a assistir May, lamentei o fato de não tê-lo assistido antes, mas lamentei ainda mais o fato de tê-lo assistido, pois eu adoraria poder vê-lo novamente pela primeira vez.
May é uma menina que sofre de estrabismo. Para evitar que a filha passe qualquer constrangimento entre os colegas, a mãe da menina faz com que ela use um tapa-olho. A estratégia não funciona, então a mulher dá para a filha uma boneca, dizendo que aquela será sua melhor amiga. May cresce sem amigos, completamente anti-social, na companhia apenas daquela boneca que jamais pôde tirar da caixa devido ao esmero da mãe. Já adulta, ela vive sozinha e trabalha em uma clínica veterinária. Ela se apaixona por um rapaz e, apesar da timidez e dificuldade de comunicação, consegue conquistá-lo. Em um dos primeiros encontros dos dois, May revela ser influenciada pelos conselhos (nem sempre bons) da boneca. Quando o rapaz percebe na namorada sua natureza instável afasta-se de seu convívio para proteger-se, mas é tarde demais, o vidro que protege a boneca começara a rachar.
Não, este não é um filme sobre bonecos assassinos, mas uma bela metáfora para o amadurecimento e a solidão. Filmes em que a loucura se confunde com a realidade ou dá margem a possibilidades fantásticas são, quando bem trabalhados, uma surpresa deliciosa. Quando May se torna, finalmente, independente da mãe autoritária, expõe-se ao mundo e suas adversidades, entre elas a decepção amorosa. Em alguns momentos, o filme me lembrou o espanhol O Espírito da Colméia (1973), em especial a imagem da criança solitária e, claro, a linda referência à criatura de Frankenstein. Acho sempre interessante assistir a boas histórias sobre outsiders, principalmente quando há tão bom desenvolvimento da personagem. A confusão proposital sobre haver ou não sobrenatural enriquece ainda mais a trama, deixando sua conclusão terna e onírica, tornando mais do que justificável um banho de sangue. Aliás, é admirável a capacidade de manipulação do diretor, o cuidado com o qual desenvolve o roteiro de sua autoria, fazendo com que este banho de sangue assemelhe-se a uma história infantil de final feliz, ainda que tortuoso.
O filme pode ser "locado" através de download pela Saraiva ou o DVD comprado pela bagatela de R$9,00. Quem sabe ainda uma dobradinha? May e Diabólica em um só DVD.
Gosto demais do MAY e foi um daqueles filmes que vi com grande expectativa, também recomendado por pessoas que conhecem os meus gostos. Filmes com poucos personagens são os meus favoritos, pois é quase certeza de que a narrativa se apoiará essencialmente na psicologia dos protagonistas. Um filme que pode ser comparado ao MAY na proposta é o OLHOS DA MORTE (Love Object), dirigido por Robert Parigi, apesar de ser um pouco mais convencional na narrativa e sem tanto estilo na direção. Mas eu recomendo!
ResponderExcluirÔba! Já vou procurar esse filme recomendado. Obrigada por mais uma indicação. ;)
ResponderExcluirE se eu te disser que eu já vi esse filme? Não vi todo, mas uma parte. Tava passando na TV, um dia aí, não lembro... quando vi a imagem dela de frente ao espelho, lembrei. Lembro da boneca também e desse detalhe do vidro quebrando. Mas vou assistir novamente, com certeza!
ResponderExcluirParabéns pelo blogue! Adorei as críticas! ;*
Nunca vi o filme. Mas a história pareceu interessante. Quando minhas finanças melhorarem, talvez eu o compre.
ResponderExcluirAcho que MAY foi o primeiro filme que eu vi no computador. Achava e ainda acho meio cansativo ver filme no PC. Na época ainda não tinha saído os players que tocam divx. Mas lembro de ter gostado do filme. Vale ver também A FLORESTA e a contribuição de McKee para MASTERS OF HORROR.
ResponderExcluireu compreiiiiiiiiii heeeeeeeeeeeeee
ResponderExcluirGrande filme de fato, também achei o final sutilmente brilhante, McKee ganha o direito de fazê-lo por ter conduzido tão bem o roteiro.
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