Desde que O Bebê de Rosemary (1969) sugeriu ao mundo que o anticristo poderia estar se desenvolvendo no útero de qualquer gestante incauta, o cinema passou a enxergar o macabro no fascinante universo da gestação, da maternidade. Além deste clássico absoluto do cinema de horror, outros filmes sobre o tema tornaram-se cultuados, como Nasce um Monstro (1974), de Larry Cohen, e Eraserhead (1977) e Otesánek (2000), dos mestres do bizarro David Lynch e Jan Svankmajer. Contudo, ao assistir Grace, foi outro filme que me veio à memória: Dead of Night, de Bob Clark, sobre um rapaz morto na Guerra do Vietnã que, de tanto a mãe desejar que volte para casa, ele volta. Morto-vivo.
Em Grace, Madeline é uma mulher obcecada em ter um filho. Após uma série de tratamentos para fertilidade, dois abortos e anos levando um casamento apenas por conveniência, ela engravida. A mulher contraria a sogra controladora e se recusa a ir a hospitais convencionais devido às suas ideologias naturebas e escolhe ser atendida por uma parteira, antiga amante sua. Após um acidente de carro em que o marido de Madeline morre, a mulher perde mais um bebê, mas decide pari-lo mesmo assim, na hora certa. Surpreendendo a todos, o bebê volta à vida minutos após o nascimento, mas possui um estranho apetite por sangue.
Os novos filmes sobre o horror na maternidade se destacam pela forma como transformam a estada no paraíso em uma verdadeira descida ao inferno. Depressão e psicose pós-parto, entre outras enfermidades comuns às mulheres parturientes são exploradas com crueza em exemplares recentes como Vidas Passadas (2006), Filha das Sombras (2007) e Herança Maldita (2008). Grace era outro desses títulos promissores, mas decepcionou. A tensão, elemento crucial para uma narrativa que se propõe tão intimista, é seriamente prejudicada pela antipatia da protagonista, uma mulher frígida (em todos os aspectos), apática e viciada em documentários sobre matanças de animais, sendo superada apenas pela personagem de sua sogra, a qual esbanja hipocrisia e sordidez.
Falta ainda sutileza à história, que não evolui em etapas, tornando óbvio desde a primeira metade o que virá a seguir. Com isso, achei que o filme possui pouquíssimos momentos relevantes, arrastando-se intensamente em cada um deles; até que um amigo me contou que Grace, originalmente, é um curta-metragem, realizado em 2006. É inevitável pensar que o processo de adaptação para uma metragem mais longa não foi completamente bem-sucedido. Outra coisa que me incomodou foi a atenção dada ao antigo romance homossexual da protagonista, que parece absolutamente dispensável até a conclusão, onde se justifica em um final mais do que caricato. Para quem aprecia um bom banho de sangue e cenas aflitivas de dor, este é o filme indicado.
Excelente texto, esse assunto é mesmo empolgante e todos os filmes citados são interessantes. Tudo que mexe com o horror psicológico me interessa, mas alguns filmes realmente decepcionam. Ainda não vi GRACE, mas como ele anda frequentando listas de "melhores do ano", está na minha lista de espera. Mas confesso que verei com certa desconfiança, pois os pontos negativos apontados no texto são coisas que também me incomodam.
ResponderExcluirOi Beatriz,
ResponderExcluirA forma como você escreve é instigante, pelo menos me instigou a ler todo o texto... Não sei se gostaria de assistir este filme, no entanto, adorei a forma como o apresentou...
Abraços,
Dany Ziroldo
Quer dizer que o filme ainda tem umas cenas de lesbianismo? O que eu estou esperando pra vê-lo, então? heheh
ResponderExcluirObrigada pelo comentário, Dany! Estou voltando agora à atividade blogueira, então seu comentário é estimulante.
ResponderExcluirAbraço,
Beatriz
As cenas de lesbianismo ficarão apenas na sua imaginação, Ailton, pois o filme não mostra nada disso, hehe.
ResponderExcluirNão vi ainda esse Grace, mas gostei do herança Maldita... Quanto a filmes envolvendo gravidez ainda não vi nenhum com o maior banho de sangue e mais aflitivo que o franês A Invasora, uma autêntica porrada no estômago
ResponderExcluirLembrei de A INVASORA, mas já tinha citado muitos filmes e acabei deixando de lado. Não deixa de ser mais um filme sobre uma mãe obcecada pela maternidade.
ResponderExcluirObrigada pela visita!
Uma pena, então. hehehe
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