
Dois dos aspectos mais discutidos de O Artista são os fatos de ser um filme mudo e preto e branco. A fotografia em preto e branco, combinada com direção de arte e figurino impecáveis, resulta num trabalho primoroso. Alguns críticos, todavia, questionaram severamente a validade de se fazer um filme mudo num período em que há altíssima tecnologia disponível. A resposta me parecia bastante clara: escolha estilística. O que haveria de errado nisso?
Após ver o filme, sustento minha opinião. Antes, o que era inevitável, tornou-se mais um recurso de estilo, como tantos outros. Porém, aqui, este recurso não se mostra bem aplicado. Exceto por duas ou três cenas que dão sentido ao “silêncio” do filme, no restante da metragem soa como um empecilho, um problema que o diretor arrumou e com o qual precisa lidar. Algumas cenas chegam a ser constrangedoras, pois percebe-se que não passa de um filme completamente ordinário.

O personagem de Dujardin é pessimamente construído. Suas motivações são rasas, não convencem. Por que, afinal, ele é contra o advento do som? Deveríamos, ainda, acreditar que ele ama a mocinha? Que sinal temos disso além do fato de ele ter protegido do incêndio uma lata de filme com uma cena protagonizada pelos dois?
Também deve ser lembrado o (mau) uso de “Scene d’Amour”. Utilizada na cena mais climática de O Artista, a grandiosa música de Bernard Herrmann só enfatizou a fraqueza do filme, posto que é muito maior que este. Sem dúvida, foi outro momento constrangedor.
Enfim, o filme não apenas remete ao período abordado em Cantando na Chuva, como, praticamente, trata-se de uma refilmagem não-declarada. Jean Dujardin assemelha-se a Gene Kelly fisicamente e até em alguns trejeitos. Há uma espécie de Lina Lamont, que misteriosamente some da trama. O filme cita diversas cenas do clássico de Stanley Donen e, surpresa, os personagens resolvem seu problema com a mesma solução: um filme musical. Sim, já vimos esse filme e uma cópia dele não é o que podemos chamar de indispensável... Ao contrário do que esperava, saí do cinema com sensação de que estava faltando algo. Quando vejo um grande filme, deixo o cinema já com vontade de revê-lo. Saí da sessão de O Artista com muita vontade de rever Cantando na Chuva.