Com a chegada das férias, a adolescente Oshare planeja viajar com o pai, um respeitado compositor de trilhas sonoras, enquanto suas amigas da escola pretendem ir com um professor a um acampamento. Quando Oshare é informada pelo pai, por quem nutre uma paixão edipiana, de que viajarão na companhia da noiva dele, a menina se rebela e retoma o contato com uma tia, irmã de sua falecida mãe. O projeto de acampamento de suas amigas também falha, e Oshare as convida a ir passar as férias junto dela na casa de campo da tia. Chegando ao estranho lugar, o grupo é recebido pela mulher, uma senhora solitária e misteriosa. Aos poucos, a casa revela-se extremamente perigosa, assassinando as meninas uma a uma, sempre de forma grotesca.
Cultuado mundo afora pela comédia amalucada, cenas surreais, gore e sátira aos filmes de horror e artes marciais, Hausu oferece muito mais do que isso. Por trás das atitudes non-sense das personagens e da trilha sonora demasiado interferente, o filme possui uma visão fatalista sobre o amor e a entrega amorosa, propondo a desmistificação de certos contos de fada, que se tornaram, ao longo dos tempos, sinônimo de alienação e subordinação feminina.
Mas não espere por um filme feminista. Hausu se apropria da característica tipicamente setentista da exploração. Coloca em conflito dois gêneros de destaque naquela década, os já citados filmes de horror e de artes marciais. Uma das personagens, uma menina apelidada de “Kung Fu”, protagoniza algumas das cenas mais absurdas e divertidas, trocando golpes com lustres e outros objetos movidos pelo sobrenatural. O sexo também é outro meio de exploração aqui, com as jovens atrizes tendo seus pequenos seios gratuitamente exibidos, além de lutar Kung Fu durante todo o filme usando apenas uma blusa e um shortinho. Em uma cena mais sofisticada, pode-se ver o conteúdo por baixo das camisolas das mocinhas através de um efeito de “chão transparente”, com a câmera filmando de baixo para cima.
Alguns outros efeitos são bastante interessantes, entre eles o flashback em formato de filme mudo, com as personagens comentando as ações dos sub-personagens, como se realmente assistissem a um filme, interessadas no que viria a seguir. É neste pequeno filme em preto e branco que conhecemos a personalidade amargurada da tia de Oshare, uma mulher cujo marido, ao ser convocado para a Segunda Guerra Mundial, prometeu voltar para casa, mas morreu em combate. Ainda no flashback, um efeito lembrou-me a cena de amor protagonizada por Rose McGowan e Freddy Rodríguez em Planeta Terror (2007), com a película incendiando tamanha a sensualidade do momento.
Hausu é uma parábola irônica e caótica sobre o amadurecimento, o amor e a decepção amorosa, um espetáculo visual de efeitos um tanto artesanais, com uma bela fotografia e atuações contidas dentro de um universo extremamente caricato. Um filme a ser redescoberto.
Que maravilha de texto - e mais um filme que ainda não assisti! Pelo jeito vou gostar muito, pois entre os meus filmes preferidos estão os filmes imperfeitos, mas que preferem se arriscar em terrenos pouco explorados do que trilhar caminhos consagrados. Lendo o texto, lembrei de dois filmes: THE LODGER, do Hitchcock, claro, com o recurso do piso transparente que permite que se veja quem está no andar de cima - mas, no caso do filme japonês, por motivos bem mais apelativos... Também lembrei de um filme que se chama, pelo que me lembro, A MALDIÇÃO DE EL CHARRO, que também tem uma interessante cena de flashback em forma de filme mudo - mais especificamente um filme expressionista! O filme é mais recente e não duvido que a idéia tenha sido copiado do HAUSU! Mais um filme para a minha wishlist.
ResponderExcluirOpa, para quem quiser ver, é bem interessante: http://www.youtube.com/watch?v=VVgeKRNMcBo
ResponderExcluirTambém lembrei do THE LODGER ao ver esse efeito, claro! E, sobre o efeito do filme mudo, lembrei do A SENHORA E OS SEUS MARIDOS, que não é exatamente um flashback, mas cada um dos relacionamentos dela é resumido em um tipo de filme. Lembra?
ResponderExcluirAh, sim, genial esse filme da Shirley MacLaine! Gosto do trecho do drama francês (ou italiano, não tenho certeza) e do pintor excêntrico!
ResponderExcluirSim, o pintor é o Paul Newman. Se não me engano, ele que protagoniza esse mini-filme francês (ou italiano? Agora você me deixou em dúvida!) com ela.
ResponderExcluirAssisti esse filme em meados do ano passado. No site em que fiz o download nos comentários sobre o filme me lembro que tinha a frase:"o melhor filme ruim que vi nos últimos tempos", ou algo assim. Uma obra bizarra e muito, muito peculiar. Enfim, muito interessante. E parabéns pelo belo texto! Abraços...
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