O demônio e a possessão demoníaca foram algumas das temáticas mais abordadas no cinema de horror da década de 1970, com lançamentos planejados na onda O exorcista (1973), de William Friedkin, sucesso até hoje lembrado como uma das maiores histórias de horror de todos os tempos. O filme impulsionou uma série de produções semelhantes, bem como continuações e sátiras pelo mundo inteiro. Após algum tempo sendo abordado de maneira tímida em alguns títulos menores, o tema parece estar de volta com tudo, com pelo menos um exemplar de destaque a partir de 2005, quando estreou O exorcismo de Emily Rose.
Em Possessão, um casal em processo de separação vê uma de suas filhas, Em (Natasha Calis) agir de modo estranho ao entrar em contato com uma velha caixa de madeira adquirida em uma venda de jardim. A menina parece estar sempre fora de si e nela desponta um comportamento agressivo. O pai acredita tratar-se de um evento sobrenatural e procura a ajuda dos membros de uma comunidade judaica. E aí está um dos destaques de Possessão: a maioria dos filmes sobre o assunto o desenvolve sob a perspectiva católica, enquanto que este traz uma abordagem judaica, abrangendo o tema desde a origem da crença, de acordo com seu folclore, até os rituais de exorcismo.
Produzido por Sam Raimi, grande nome do cinema de gênero, e dirigido por Ole Bornedal, cineasta dinamarquês de O principal suspeito (1997), Possessão gerou grande expectativa entre os aficionados, mas não cumpriu a promessa. O filme demora bastante a engrenar e, quando finalmente o faz, deslancha numa conclusão pra lá de desinteressante. As cenas mais intensas são frequentemente abortadas de maneira brusca, deixando a impressão de que as vimos apenas pela metade.
Possessão tem uma característica que é recorrente nos filmes de terror: o mal manifestado dentro do núcleo familiar. Aqui, a possessão se relaciona com o desmoronamento da família, simbolizado pelo divórcio dos pais, por sua vez causado pela ambição exacerbada do pai, que prioriza a ascensão na carreira e deixa esposa e filhas em segundo plano. O divórcio, muitas vezes, é o agente provocador de uma série de traumas nos filhos, e a possessão pode ser uma maneira simbólica da personagem Em externá-los. Talvez assim justifique-se o descaso com a criação de cenas climáticas, de medo, e o enfoque em cenas dramáticas, o que faz com que Possessão funcione como drama familiar, mas falhe como filme de horror.
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
A Entidade (Sinister, 2012)
Em A entidade, novo filme de Scott Derrickson, Ethan Hawke interpreta Ellison Oswalt, escritor de livros sensacionalistas sobre crimes reais que vive à sombra de um antigo sucesso. Disposto a tudo para conseguir emplacar novamente, ele se muda com a esposa e os dois filhos para uma casa na qual os antigos inquilinos foram assassinados. O escritor imerge no caso quando descobre em seu porão uma série de filmes caseiros feitos em super 8 que registram o assassinato de várias famílias e Oswalt decide investigar para encontrar o ponto em comum entre eles.
Derrickson estreou no longa-metragem com Hellraiser: Inferno (2000), filme lançado diretamente em vídeo para a franquia de Clive Barker. Cinco anos mais tarde, realizou um dos filmes mais impactantes sobre a temática da possessão demoníaca, O exorcismo de Emily Rose, em que revelou sua capacidade não apenas de criar cenas intensamente assustadoras, mas de fazer horror inteligente.
A entidade não fica atrás. Possui muitas características das produções de horror tradicionais, afinal, faz parte do gênero e aceita sem traumas alguns de seus clichês, mas o que faz do filme especial é a subversão de outros lugares-comuns. Em certo momento, um policial sugere que todo o terror que o escritor tem vivido pode tratar-se, simplesmente, de alucinações, visto que tem sofrido estresse pela pressão de escrever um novo sucesso e anda sempre com um copo de uísque nas mãos. Essa possibilidade é contrariada com uma conclusão chocante a maneira de Home movie (2008) – horror independente de Christopher Denham – e que livra A entidade de ser mais um Terror em Amityville (1979).
Apesar de seguir em parte a cartilha dos clássicos, A entidade se mantém atual ao dialogar com as produções do horror contemporâneo que trazem a violência como atração principal. Faz isto através dos filmes em super 8 assistidos pelo personagem do escritor, em que famílias são exterminadas de forma inventiva e cruel nos moldes do subgênero de tortura que, nos últimos anos, predominou entre os lançamentos de horror. As fitas caseiras em super 8 agregam ainda o caráter de realismo, aspecto bastante valorizado nas produções atuais.
Associada aos macabros filmes caseiros a impressionante trilha sonora de Christopher Young confere um bocado de estranheza com seus elementos tribais e ruídos que se assemelham a sussurros infantis. Outro destaque que faz de A entidade um clássico instantâneo é o “monstro”, a entidade. Discreta e misteriosa, a figura de que pouco se sabe trouxe o medo de volta às telas.
A entidade não fica atrás. Possui muitas características das produções de horror tradicionais, afinal, faz parte do gênero e aceita sem traumas alguns de seus clichês, mas o que faz do filme especial é a subversão de outros lugares-comuns. Em certo momento, um policial sugere que todo o terror que o escritor tem vivido pode tratar-se, simplesmente, de alucinações, visto que tem sofrido estresse pela pressão de escrever um novo sucesso e anda sempre com um copo de uísque nas mãos. Essa possibilidade é contrariada com uma conclusão chocante a maneira de Home movie (2008) – horror independente de Christopher Denham – e que livra A entidade de ser mais um Terror em Amityville (1979).
Apesar de seguir em parte a cartilha dos clássicos, A entidade se mantém atual ao dialogar com as produções do horror contemporâneo que trazem a violência como atração principal. Faz isto através dos filmes em super 8 assistidos pelo personagem do escritor, em que famílias são exterminadas de forma inventiva e cruel nos moldes do subgênero de tortura que, nos últimos anos, predominou entre os lançamentos de horror. As fitas caseiras em super 8 agregam ainda o caráter de realismo, aspecto bastante valorizado nas produções atuais.
Associada aos macabros filmes caseiros a impressionante trilha sonora de Christopher Young confere um bocado de estranheza com seus elementos tribais e ruídos que se assemelham a sussurros infantis. Outro destaque que faz de A entidade um clássico instantâneo é o “monstro”, a entidade. Discreta e misteriosa, a figura de que pouco se sabe trouxe o medo de volta às telas.
quarta-feira, 11 de abril de 2012
Xingu (2012)
Xingu (2012) é baseado na história dos irmãos Cláudio, Orlando e Leonardo Villas-Bôas (respectivamente, João Miguel, Felipe Camargo e Caio Blat). Segundo a narrativa, os irmãos, na década de 1940, buscavam aventuras e candidataram-se para desbravar terras brasileiras até então desconhecidas pelo homem branco. Os três são aceitos na expedição e logo se veem no comando. O grupo cruza em seu caminho com algumas tribos e estabelece com elas uma relação de cumplicidade. Os irmãos decidem protegê-las e preservar todo o ambiente em que vivem, sendo responsáveis pela idealização do Parque Nacional do Xingu (hoje Parque Indígena do Xingu), inaugurado em 1961. Considerado a maior reserva do tipo no mundo, o parque é fruto do trabalho árduo dos Irmãos Villas-Bôas, juntamente do antropólogo Darcy Ribeiro e outras personalidades, num projeto assinado pelo então presidente Jânio Quadros. Como resultado deste trabalho, diversas etnias habitam o parque até hoje. Convivem harmoniosamente, inclusive realizando casamentos entre membros de aldeias distintas, mas sempre preservando suas particularidades.
Xingu cumpre o seu papel na celebração e preservação da memória dos Irmãos Villas-Bôas, bem como atenta para a importância da questão indígena, em tempos da polêmica que envolve a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu. Honesto, o filme não se limita a festejar os pontos positivos na inserção dos irmãos naquele local: lembra da tragédia provocada por eles mesmos, ao levarem gripe a uma aldeia que jamais tivera contato com a doença, e cuja população foi quase que completamente dizimada em consequência disto.
Exibido no 62º Festival Internacional de Berlim, Xingu conta com um impressionante trabalho de elenco, principalmente no que se refere aos índios que atuam no filme. Estes, do ponto de vista do homem branco, dão o devido toque de exotismo à produção (foi possível ouvir entre a plateia risos pudicos quando os integrantes das tribos apareciam nus em cena). Entre os atores “brancos”, destaca-se João Miguel, que interpretara um cozinheiro cearense, o retirante Nonato, em Estômago (2007). Aqui, João Miguel interpreta de maneira comovente Cláudio Villas-Bôas, ainda que o personagem não seja explorado pelo roteiro em todo o seu potencial, talvez por uma falha em sua elaboração.
Divulgado como filme de aventura,Xingu, infelizmente, não se revela um bom exercício de cinema. É bastante contido nas cenas de apelo mais cinematográfico, limitando-se a uma série de sugestões. O diretor, Cao Hamburguer (Castelo Rá-Tim-Bum, o Filme, de 1999, e O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, de 2006) parece preocupado em fazer um filme agradável a um público mais amplo e evita cenas de cunho sensual, tenso e violento.
Por exemplo, dá-se a entender que Leonardo Villas-Bôas, o personagem de Caio Blat, está pretende relacionar-se com uma moça indígena. O romance dos dois, entretanto, não é de forma alguma explorado. De repente, sabemos que a moça engravidou, teve um filho de Leonardo, e o caso vira polêmica, levando o rapaz a se afastar da expedição. O mesmo acontece quando Cláudio envolve-se com uma índia. Os dois adentram a mata e na cena seguinte a moça aparece grávida. Não há sedução, não há paixão; quase não há conflito. Uma maior abordagem destas subtramas certamente daria um aspecto dramático mais interessante.
Observamos algo semelhante no que diz respeito às cenas de suspense e ação. Lembremos do momento em que, acampado no meio da mata, à noite, o grupo acredita estar cercado de índios hostis. Antes de chegar ao seu clímax, a cena é interrompida. A violência também parece distribuída em pequenas doses. Na cena em que há um conflito entre índios e homens brancos, logo no primeiro ataque a imagem torna-se embaçada e a sequência é encerrada ali mesmo.
Percebe-se em Xingu uma necessidade, acima de tudo, de mostrar os fatos de maneira fiel. Cenas curtas, diretas, quase que documentais, marcam esta produção.
Crítica publicada originalmente no Blog de Cinema do Diário do Nordeste.
Xingu cumpre o seu papel na celebração e preservação da memória dos Irmãos Villas-Bôas, bem como atenta para a importância da questão indígena, em tempos da polêmica que envolve a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu. Honesto, o filme não se limita a festejar os pontos positivos na inserção dos irmãos naquele local: lembra da tragédia provocada por eles mesmos, ao levarem gripe a uma aldeia que jamais tivera contato com a doença, e cuja população foi quase que completamente dizimada em consequência disto.
Exibido no 62º Festival Internacional de Berlim, Xingu conta com um impressionante trabalho de elenco, principalmente no que se refere aos índios que atuam no filme. Estes, do ponto de vista do homem branco, dão o devido toque de exotismo à produção (foi possível ouvir entre a plateia risos pudicos quando os integrantes das tribos apareciam nus em cena). Entre os atores “brancos”, destaca-se João Miguel, que interpretara um cozinheiro cearense, o retirante Nonato, em Estômago (2007). Aqui, João Miguel interpreta de maneira comovente Cláudio Villas-Bôas, ainda que o personagem não seja explorado pelo roteiro em todo o seu potencial, talvez por uma falha em sua elaboração.
Divulgado como filme de aventura,Xingu, infelizmente, não se revela um bom exercício de cinema. É bastante contido nas cenas de apelo mais cinematográfico, limitando-se a uma série de sugestões. O diretor, Cao Hamburguer (Castelo Rá-Tim-Bum, o Filme, de 1999, e O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, de 2006) parece preocupado em fazer um filme agradável a um público mais amplo e evita cenas de cunho sensual, tenso e violento.
Por exemplo, dá-se a entender que Leonardo Villas-Bôas, o personagem de Caio Blat, está pretende relacionar-se com uma moça indígena. O romance dos dois, entretanto, não é de forma alguma explorado. De repente, sabemos que a moça engravidou, teve um filho de Leonardo, e o caso vira polêmica, levando o rapaz a se afastar da expedição. O mesmo acontece quando Cláudio envolve-se com uma índia. Os dois adentram a mata e na cena seguinte a moça aparece grávida. Não há sedução, não há paixão; quase não há conflito. Uma maior abordagem destas subtramas certamente daria um aspecto dramático mais interessante.
Observamos algo semelhante no que diz respeito às cenas de suspense e ação. Lembremos do momento em que, acampado no meio da mata, à noite, o grupo acredita estar cercado de índios hostis. Antes de chegar ao seu clímax, a cena é interrompida. A violência também parece distribuída em pequenas doses. Na cena em que há um conflito entre índios e homens brancos, logo no primeiro ataque a imagem torna-se embaçada e a sequência é encerrada ali mesmo.
Percebe-se em Xingu uma necessidade, acima de tudo, de mostrar os fatos de maneira fiel. Cenas curtas, diretas, quase que documentais, marcam esta produção.
Crítica publicada originalmente no Blog de Cinema do Diário do Nordeste.
domingo, 4 de março de 2012
O Artista (2011)
Após algum tempo sem ir ao cinema, ontem, finalmente, vi O Artista, filme vencedor do Oscar neste ano. Do mesmo modo que o clássico Cantando na Chuva, este filme aborda o período da transição do cinema mudo para o falado em Hollywood, e das dificuldades que as pessoas que trabalhavam no meio enfrentaram devido ao advento. Em O Artista, Jean Dujardin interpreta George Valentin, um astro do cinema silencioso, que se recusa a aderir à novidade. O estúdio para o qual o ator trabalha, no entanto, não se intimida com sua opinião discrepante e decide investir em novos talentos, falantes. Entre as novas vedetes está Peppy Miller (Bérénice Bejo), uma dançarina com quem Valentin está envolvido. Não tarda até que Miller comece a estrelar os seus próprios filmes, colaborando, mesmo que sem querer, para o oblívio do seu colega. Este, inconformado com a condição de artista obsoleto, chega a tentar o suicídio em um incêndio, sendo resgatado a tempo. Miller se redime de sua culpa ao colocar Valentin de volta à ativa, quando os dois dançam e atuam em um filme musical.
Dois dos aspectos mais discutidos de O Artista são os fatos de ser um filme mudo e preto e branco. A fotografia em preto e branco, combinada com direção de arte e figurino impecáveis, resulta num trabalho primoroso. Alguns críticos, todavia, questionaram severamente a validade de se fazer um filme mudo num período em que há altíssima tecnologia disponível. A resposta me parecia bastante clara: escolha estilística. O que haveria de errado nisso?
Após ver o filme, sustento minha opinião. Antes, o que era inevitável, tornou-se mais um recurso de estilo, como tantos outros. Porém, aqui, este recurso não se mostra bem aplicado. Exceto por duas ou três cenas que dão sentido ao “silêncio” do filme, no restante da metragem soa como um empecilho, um problema que o diretor arrumou e com o qual precisa lidar. Algumas cenas chegam a ser constrangedoras, pois percebe-se que não passa de um filme completamente ordinário.
Uma surpresa inesperada: a participação especial do Malcom McDowell.
O personagem de Dujardin é pessimamente construído. Suas motivações são rasas, não convencem. Por que, afinal, ele é contra o advento do som? Deveríamos, ainda, acreditar que ele ama a mocinha? Que sinal temos disso além do fato de ele ter protegido do incêndio uma lata de filme com uma cena protagonizada pelos dois?
Também deve ser lembrado o (mau) uso de “Scene d’Amour”. Utilizada na cena mais climática de O Artista, a grandiosa música de Bernard Herrmann só enfatizou a fraqueza do filme, posto que é muito maior que este. Sem dúvida, foi outro momento constrangedor.
Enfim, o filme não apenas remete ao período abordado em Cantando na Chuva, como, praticamente, trata-se de uma refilmagem não-declarada. Jean Dujardin assemelha-se a Gene Kelly fisicamente e até em alguns trejeitos. Há uma espécie de Lina Lamont, que misteriosamente some da trama. O filme cita diversas cenas do clássico de Stanley Donen e, surpresa, os personagens resolvem seu problema com a mesma solução: um filme musical. Sim, já vimos esse filme e uma cópia dele não é o que podemos chamar de indispensável... Ao contrário do que esperava, saí do cinema com sensação de que estava faltando algo. Quando vejo um grande filme, deixo o cinema já com vontade de revê-lo. Saí da sessão de O Artista com muita vontade de rever Cantando na Chuva.
Dois dos aspectos mais discutidos de O Artista são os fatos de ser um filme mudo e preto e branco. A fotografia em preto e branco, combinada com direção de arte e figurino impecáveis, resulta num trabalho primoroso. Alguns críticos, todavia, questionaram severamente a validade de se fazer um filme mudo num período em que há altíssima tecnologia disponível. A resposta me parecia bastante clara: escolha estilística. O que haveria de errado nisso?
Após ver o filme, sustento minha opinião. Antes, o que era inevitável, tornou-se mais um recurso de estilo, como tantos outros. Porém, aqui, este recurso não se mostra bem aplicado. Exceto por duas ou três cenas que dão sentido ao “silêncio” do filme, no restante da metragem soa como um empecilho, um problema que o diretor arrumou e com o qual precisa lidar. Algumas cenas chegam a ser constrangedoras, pois percebe-se que não passa de um filme completamente ordinário.
O personagem de Dujardin é pessimamente construído. Suas motivações são rasas, não convencem. Por que, afinal, ele é contra o advento do som? Deveríamos, ainda, acreditar que ele ama a mocinha? Que sinal temos disso além do fato de ele ter protegido do incêndio uma lata de filme com uma cena protagonizada pelos dois?
Também deve ser lembrado o (mau) uso de “Scene d’Amour”. Utilizada na cena mais climática de O Artista, a grandiosa música de Bernard Herrmann só enfatizou a fraqueza do filme, posto que é muito maior que este. Sem dúvida, foi outro momento constrangedor.
Enfim, o filme não apenas remete ao período abordado em Cantando na Chuva, como, praticamente, trata-se de uma refilmagem não-declarada. Jean Dujardin assemelha-se a Gene Kelly fisicamente e até em alguns trejeitos. Há uma espécie de Lina Lamont, que misteriosamente some da trama. O filme cita diversas cenas do clássico de Stanley Donen e, surpresa, os personagens resolvem seu problema com a mesma solução: um filme musical. Sim, já vimos esse filme e uma cópia dele não é o que podemos chamar de indispensável... Ao contrário do que esperava, saí do cinema com sensação de que estava faltando algo. Quando vejo um grande filme, deixo o cinema já com vontade de revê-lo. Saí da sessão de O Artista com muita vontade de rever Cantando na Chuva.
quinta-feira, 3 de março de 2011
A Reunião dos Demônios/Os Três Zuretas (1997)
Na década de 1960, Joaquim, um menino da cidade grande, é enviado para a casa dos avós durante uma crise entre os seus pais. A avó de Joaquim é uma mulher bastante severa e repressora, enquanto o avô do menino, de nome igual ao seu, compreende suas vontades e encobre suas fugas quando o neto deseja sair para brincar com seus amigos, Zezo e Pelé; os três garotos, de diferentes classes sociais, mas todos alcunhados de “demônio” por seus respectivos pais. Tamanha é a repetição do apelido, que as crianças incorporam-no e acreditam de fato estar possuídas pelo demônio e com ele terem um pacto. A partir daí, os três meninos começam a usufruir deste acordo satisfazendo desde desejos infantis como tomar sorvete, até ansiarem morte de seu professor. É quando os três, em suas limitações pueris, terão de escolher entre o bem e o mal.
A Reunião dos Demônios é uma grata surpresa do chamado “cinema de retomada” brasileiro. Dentro de um filme aparentemente simples, infantil, foram inseridas questões como a liberdade, o direito do indivíduo de fazer escolhas, como é bem ilustrado na cena em que o avô, personagem de Cláudio Marzo, ao alimentar um passarinho que estava preso na gaiola, decide deixá-lo partir. A inocência infantil também é questionada quando as crianças discutem sobre que fim dar ao professor, baseando-se em sua necessidade egoísta de ocultar uma possível nota ruim em uma avaliação escolar, o os levaria a ser castigados pelos pais.
Sendo quase impossível desvincular suas figuras em uma trama sobre crianças, os pais são outro elemento importante da história. O desequilíbrio matrimonial, tanto dos pais quanto dos avós de Joaquim, e até mesmo dos pais de seus colegas (a mãe de Pelé e solteira, e o sustenta sozinha), é o motivo de grande parte dos problemas do menino. Extremamente rico em leituras, A Reunião dos Demônios é tecnicamente imperfeito. Repete alguns diálogos à exaustão. O elenco infantil, todo estreante, realiza um excelente um trabalho. Acreditando que o título pudesse afugentar o público, por remeter a histórias de horror, o filme foi relançado em 2001 com o título Os Três Zuretas.
A Reunião dos Demônios é uma grata surpresa do chamado “cinema de retomada” brasileiro. Dentro de um filme aparentemente simples, infantil, foram inseridas questões como a liberdade, o direito do indivíduo de fazer escolhas, como é bem ilustrado na cena em que o avô, personagem de Cláudio Marzo, ao alimentar um passarinho que estava preso na gaiola, decide deixá-lo partir. A inocência infantil também é questionada quando as crianças discutem sobre que fim dar ao professor, baseando-se em sua necessidade egoísta de ocultar uma possível nota ruim em uma avaliação escolar, o os levaria a ser castigados pelos pais.
Sendo quase impossível desvincular suas figuras em uma trama sobre crianças, os pais são outro elemento importante da história. O desequilíbrio matrimonial, tanto dos pais quanto dos avós de Joaquim, e até mesmo dos pais de seus colegas (a mãe de Pelé e solteira, e o sustenta sozinha), é o motivo de grande parte dos problemas do menino. Extremamente rico em leituras, A Reunião dos Demônios é tecnicamente imperfeito. Repete alguns diálogos à exaustão. O elenco infantil, todo estreante, realiza um excelente um trabalho. Acreditando que o título pudesse afugentar o público, por remeter a histórias de horror, o filme foi relançado em 2001 com o título Os Três Zuretas.
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terça-feira, 1 de março de 2011
Tormenta (1982)
Mulher viaja com o companheiro e a filha pré-adolescente dele para uma ilha deserta onde ele mantém uma cabana. Outrora empolgada com as viagens que fazia ao lugar, que considerava uma espécie de refúgio, a mulher sente desta vez um estranhamento, uma espécie de mau presságio. Seu marido, contrabandista, sai de barco ao encontro de um cargueiro, mas é vítima de uma tormenta e não retorna para encontrar a esposa e a filha. As duas ficam sozinhas na ilha, buscando sobreviver através da pesca e da procura de vegetais. Porém, é na enteada que a mulher encontra o seu maior desafio: extremamente rebelde, a menina evita envolver-se afetivamente com a madrasta, acusando-a de ter estragado a relação que ela tinha com o pai.
Drama enigmático e intimista, Tormenta é uma belo exemplar do cinema fantástico brasileiro. A personagem de Bianca Byington, a pré-adolescente cruel que manipula a madrasta que deseja se aproximar dela, é um prato cheio para a psicanálise, com insinuações edipianas e, mais adiante, homossexuais. O filme possui ainda diversas simbologias que ajudam a desvendar seus enigmas, como a boneca que, ao ser quebrada, representaria o amadurecimento, o despertar sexual da garota; bem como a quebra do vínculo com sua mãe, que, apesar de ausente, é claramente um empecilho para o bom relacionamento entre a enteada e a madrasta.
A jovem atriz, que recebera o título de “Musa de Verão” pouco antes da estréia de Tormenta, foi premiada como melhor atriz coadjuvante no Festival de Gramado, e mais tarde fez bastante sucesso em telenovelas. O filme foi premiado ainda pela Associação Paulista de Críticos de Artes nas categorias melhor argumento, melhor roteiro, melhor fotografia e melhor montagem. O cineasta Uberto Molo, italiano radicado no Brasil, faria quatro anos mais tarde o seu segundo e último longa-metragem, Por Incrível Que Pareça, uma comédia com elementos de ficção científica.
Drama enigmático e intimista, Tormenta é uma belo exemplar do cinema fantástico brasileiro. A personagem de Bianca Byington, a pré-adolescente cruel que manipula a madrasta que deseja se aproximar dela, é um prato cheio para a psicanálise, com insinuações edipianas e, mais adiante, homossexuais. O filme possui ainda diversas simbologias que ajudam a desvendar seus enigmas, como a boneca que, ao ser quebrada, representaria o amadurecimento, o despertar sexual da garota; bem como a quebra do vínculo com sua mãe, que, apesar de ausente, é claramente um empecilho para o bom relacionamento entre a enteada e a madrasta.
A jovem atriz, que recebera o título de “Musa de Verão” pouco antes da estréia de Tormenta, foi premiada como melhor atriz coadjuvante no Festival de Gramado, e mais tarde fez bastante sucesso em telenovelas. O filme foi premiado ainda pela Associação Paulista de Críticos de Artes nas categorias melhor argumento, melhor roteiro, melhor fotografia e melhor montagem. O cineasta Uberto Molo, italiano radicado no Brasil, faria quatro anos mais tarde o seu segundo e último longa-metragem, Por Incrível Que Pareça, uma comédia com elementos de ficção científica.
Prêmio Dardos
Fui surpreendida hoje com essa gentileza do Carlos Primati, do blog Cine Monstro, que ofereceu ao meu blog o selo Dardos de qualidade (na verdade, tá mais pra estímulo para eu continuar postando com freqüência, rs). Enfim, a regra diz que o agraciado com o prêmio deve indicar mais quatro blogueiros para recebê-lo.
Os blogueiros indicados deverão repassar o selo a quatro colegas e assim por diante.
Meus indicados ao selo Dardos de qualidade, são:
Cristian Verardi, do Cinema Ex Machina;
Cayman Moreira, do Cayman Art & Alpharrabyos;
Valter Noronha, do Film Fatales;
Diego Akel, do Akel Estúdio.
Vocês poderão ler mais sobre o selo no blog Midnight Drive-In.
PS: Lembrei de indicar outros colegas, mas só conseguia pensar que eles não são muito fãs de selos.
PS²: Isso tudo me fez lembrar de que eu preciso atualizar a minha lista de blogs favoritos, da barra à direita.
Os blogueiros indicados deverão repassar o selo a quatro colegas e assim por diante.
Meus indicados ao selo Dardos de qualidade, são:
Cristian Verardi, do Cinema Ex Machina;
Cayman Moreira, do Cayman Art & Alpharrabyos;
Valter Noronha, do Film Fatales;
Diego Akel, do Akel Estúdio.
Vocês poderão ler mais sobre o selo no blog Midnight Drive-In.
PS: Lembrei de indicar outros colegas, mas só conseguia pensar que eles não são muito fãs de selos.
PS²: Isso tudo me fez lembrar de que eu preciso atualizar a minha lista de blogs favoritos, da barra à direita.
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