

Exibido no 62º Festival Internacional de Berlim, Xingu conta com um impressionante trabalho de elenco, principalmente no que se refere aos índios que atuam no filme. Estes, do ponto de vista do homem branco, dão o devido toque de exotismo à produção (foi possível ouvir entre a plateia risos pudicos quando os integrantes das tribos apareciam nus em cena). Entre os atores “brancos”, destaca-se João Miguel, que interpretara um cozinheiro cearense, o retirante Nonato, em Estômago (2007). Aqui, João Miguel interpreta de maneira comovente Cláudio Villas-Bôas, ainda que o personagem não seja explorado pelo roteiro em todo o seu potencial, talvez por uma falha em sua elaboração.

Divulgado como filme de aventura,Xingu, infelizmente, não se revela um bom exercício de cinema. É bastante contido nas cenas de apelo mais cinematográfico, limitando-se a uma série de sugestões. O diretor, Cao Hamburguer (Castelo Rá-Tim-Bum, o Filme, de 1999, e O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, de 2006) parece preocupado em fazer um filme agradável a um público mais amplo e evita cenas de cunho sensual, tenso e violento.
Por exemplo, dá-se a entender que Leonardo Villas-Bôas, o personagem de Caio Blat, está pretende relacionar-se com uma moça indígena. O romance dos dois, entretanto, não é de forma alguma explorado. De repente, sabemos que a moça engravidou, teve um filho de Leonardo, e o caso vira polêmica, levando o rapaz a se afastar da expedição. O mesmo acontece quando Cláudio envolve-se com uma índia. Os dois adentram a mata e na cena seguinte a moça aparece grávida. Não há sedução, não há paixão; quase não há conflito. Uma maior abordagem destas subtramas certamente daria um aspecto dramático mais interessante.
Observamos algo semelhante no que diz respeito às cenas de suspense e ação. Lembremos do momento em que, acampado no meio da mata, à noite, o grupo acredita estar cercado de índios hostis. Antes de chegar ao seu clímax, a cena é interrompida. A violência também parece distribuída em pequenas doses. Na cena em que há um conflito entre índios e homens brancos, logo no primeiro ataque a imagem torna-se embaçada e a sequência é encerrada ali mesmo.

Percebe-se em Xingu uma necessidade, acima de tudo, de mostrar os fatos de maneira fiel. Cenas curtas, diretas, quase que documentais, marcam esta produção.
Crítica publicada originalmente no Blog de Cinema do Diário do Nordeste.
bogue parô de postá?
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