domingo, 3 de janeiro de 2010

Não Adormeça (1982)

A culpa é da avó!

Um dos temas que considero mais interessantes é o horror infantil. Crianças alienígenas, crianças em perigo, crianças rancorosas, entre outros perfis. Ao ouvir falar de Não Adormeça, telefilme bastante popular no Brasil durante os anos 80 ao ser exibido e reprisado diversas vezes na televisão, fiquei ansiosa para assisti-lo.



Não bastando a fantasminha, a boneca também distribui piscadelas.


Um casal que acabou de perder a filha mais velha, Jennifer, em um acidente automobilístico muda-se com os outros dois filhos, Mary e Kevin, e a avó materna deles para uma nova casa. Logo na primeira noite da família no lugar, Mary ouve vozes sinistras que a chamam e sua cama incendeia misteriosamente. A menina percebe, então, que sua irmã morta está tentando contatá-la. Os diálogos entre as duas tornam-se perigosos quando o fantasma de Jennifer acusa seus pais de tentar afastar as duas irmãs uma da outra, e sugere que Mary livre-se de cada um dos membros da família.

Dirigido por Richard Lang, realizador que dedicou-se quase que exclusivamente a séries e filmes para a televisão, Não Adormeça corresponde às suas pretensões, e ainda oferece um pouco mais ao espectador, sugerindo uma convincente interpretação racional aos supostos encontros de Mary com a irmã morta, em um estilo de trama que alcançara a perfeição em Os Inocentes (1961). Uma personagem estigmatizada por uma educação conservadora, dogmas religiosos ou, no caso, pela culpa, em um lapso de consciência, sob a influência de outros fatores, sofre peças pregadas pela mente.

Não Adormeça possui tanto bons quanto maus momentos. Entre os melhores estão a cena com o cortador de pizza, insólita e carregada de tensão, e as aparições de Jennifer (Kristin Cumming), a fantasminha que, apesar de bastante espirituosa, soma um quê de perversidade ao distribuir piscadelas aos familiares, assustados. Ruth Gordon, no papel da avó, tem interpretação quase tão perfeita quanto a que realizara em O Bebê de Rosemary (1969), tão à vontade, que parece interpretar si mesma. Dennis Weaver e Valerie Harper, que interpretam o casal, protagonizam a maioria das cenas dispensáveis, em um exagero de discussões dramáticas sobre o destino da família que toma quase que metade da metragem. Uma preocupação absolutamente desnecessária. Ao contrário de Gordon, o restante do elenco mirim assemelha-se a adultos em miniatura com suas expressões e cacoetes nada espontâneos.

A direção traz alguns planos descuidados, que, inevitavelmente, remetem à origem do diretor. Este, aliás, dirigiu em 1984 uma refilmagem de Espelhos d’Alma (1946), sobre um psiquiatra que estuda a maldade em duas irmãs gêmeas. O filme original, de Robert Siodmark, tem a Olivia de Havilland no elenco e saiu em VHS no Brasil. Pode ser uma boa pedida para uma próxima sessão.

5 comentários:

  1. Vi esse filme há alguna anos mas, sei lá por que, não lembro de muita coisa dele. Basicamente, do acidente de carro e do mistério em torno da menina fantasma. Esses telefilmes de horror são o que nossa memória afetiva tem de melhor, mas não sei se funcionam para a platéia de hoje. Gosto demais de SPECTRO e O TRIÂNGULO DO DIABO, dois telefilmes que vi na infância e que hoje reconheço serem cheio de falhas, mas com um charme setentista que nada é capaz de superar. Qualquer dia pretendo rever NÃO ADORMEÇA sob essa ótica do horror infantil. Deve ser interessante.

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  2. Olá Beatriz,
    aqui é Wanderson Niquini, Co-Fundador do Filmow.
    Estou passando para lhe desejar muito sucesso no seu blog.

    Grandea abraço.

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  3. Nossa, Bia! Até hoje, não sabia que existiam filmes de horror infantil. Inobstante minha ignorância, nesse particular, amei o que você escreveu a respeito de "Não Adormeça", não só pelas colocações que fez acerca do enredo, dos personagens e dos atores, mas, sobretudo, porque você tem uma meneira tão clara e coerente de conduzir o texto, que torna a leitura um ato prazeiroso. Parabéns, pelo texto e pelo blog!

    Cléria Saldanha

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  4. O filme parece ser interessante.
    Se você curte "terror-infantil", recomendo um filme mexicano bem legal chamado "Veneno para as Fadas", já viu?

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  5. João Paulo, obrigada pela visita! Conheço VENENO PARA AS FADAS, sim (não sabia que tinha título em português). Gosto muito das incursões do Taboada pelo universo do horror infantil.

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