sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Fantaspoa: sessão comentada de O Jovem Tataravô

Na última segunda-feira (5), o Fantaspoa teve uma charmosa sessão de O Jovem Tataravô, de 1936. A razão da exibição, além do resgate da obra, é a divulgação do curso “O Horror no Cinema Brasileiro”, que acontecerá nos dias 10 e 11 de julho.

Em O Jovem Tataravô um homem arremata em um leilão uma misteriosa caixa que contém em seu interior uma fórmula egípcia de ressuscitação dos mortos. Imediatamente, ele convoca seus parentes e amigos para uma sessão de invocação através da qual chama o seu tataravô. O homem aparece no meio da sala em trajes de banho, vestido da maneira em que estava quando morreu há cem anos, afogado no mar. A partir daí, o velho, aliás… jovem redivivo sai pela cidade do Rio de Janeiro em busca de aventuras, galanteando todas as mulheres à sua volta.

Os pesquisadores Carlos Primati e Laura Cánepa participaram ao final da sessão de um rico debate que iniciaram esclarecendo aos espectadores que O Jovem Tataravô é considerado o marco zero do cinema de horror brasileiro por ser o primeiro longa-metragem com elementos sobrenaturais, como a reencarnação. O filme tem base no texto teatral O Tataravô, de Gilberto de Andrade – a peça ganharia uma nova adaptação nos anos 50, desta vez em tom de ficção científica, acompanhando a tendência cinematográfica daquele período; e foi dirigido por Luiz de Barros, responsável pelo primeiro filme falado brasileiro, Acabaram-se os Otários (1929).

Em um dos momentos mais interessantes do debate, Laura e Primati falaram sobre os problemas da pesquisa de cinema no Brasil, além da necessidade de uma intervenção do governo na preservação de filmes brasileiros, que sempre foram bastante negligenciados.

Beatriz Saldanha
Para o blog do Fantaspoa

Fantaspoa: curtas-metragens de animação

Repetindo o sucesso da sessão inaugural, o público novamente compareceu em grande número ao segundo dia do Fantaspoa. Ao preço de R$ 2,00 por sessão, os espectadores puderam conferir 36 curtas-metragens de animação, sendo oito deles brasileiros.

Freqüentemente estigmatizados como limitados e infantis, os curtas de animação integraram todo um dia da programação do festival e revelaram, em sua maioria, uma faceta bem diferente daquela preconceituosa.

Muitos dos títulos exibidos versam sobre temas que sempre afligiram o ser humano, como, entre outros, o amor e a morte. O exemplar brasileiro A Última Noite, de Guilherme Rezende (2008) e o espanhol The Lady and the Reaper, de Javier Recio Gracia (2009), são ótimos exemplares que unem ambos os temas, em uma abordagem bem-humorada. No primeiro, um casal de defuntos desfruta de um jantar romântico no cemitério e, no segundo, uma senhora deseja morrer para reencontrar o falecido marido, mas suas tentativas são frustradas por um jovem médico exibido, que insiste em salvá-la.

Entre os títulos estavam ainda Josué e o Pé de Macaxeira (2009), de Diogo Viegas, escolhido pelo júri popular como Melhor Animação Brasileira no Anima Mundi e O Jumento Santo na Cidade que Se Acabou Antes de Começar, de Leo D. e William Paiva (2006); ambas, simpáticas histórias de temática nordestina.

Diversas técnicas de animação foram empregadas nos curtas exibidos ao longo do sábado, da animação tradicional à digital, em terceira dimensão, além de stop-motion e outras. Os diretores britânicos Ben Richardson e Daniel Bird utilizaram desta última na criação do perturbador Seed (2009), que faz através dos personagens de um ovo e uma maçã que disputam por transmissões de rádio uma metáfora para a sobrevivência. Outro curta marcante, o alemão Hybris (2009), de Florian Schnell, Martin Minsel e Patrick Müller, mescla diversas técnicas, como rotoscopia, pixilation e filmagens reais, obtendo impressionantes texturas, de encher os olhos dos espectadores mais exigentes.

Beatriz Saldanha
Para o blog do Fantaspoa