terça-feira, 1 de março de 2011

Tormenta (1982)

Mulher viaja com o companheiro e a filha pré-adolescente dele para uma ilha deserta onde ele mantém uma cabana. Outrora empolgada com as viagens que fazia ao lugar, que considerava uma espécie de refúgio, a mulher sente desta vez um estranhamento, uma espécie de mau presságio. Seu marido, contrabandista, sai de barco ao encontro de um cargueiro, mas é vítima de uma tormenta e não retorna para encontrar a esposa e a filha. As duas ficam sozinhas na ilha, buscando sobreviver através da pesca e da procura de vegetais. Porém, é na enteada que a mulher encontra o seu maior desafio: extremamente rebelde, a menina evita envolver-se afetivamente com a madrasta, acusando-a de ter estragado a relação que ela tinha com o pai.

Drama enigmático e intimista, Tormenta é uma belo exemplar do cinema fantástico brasileiro. A personagem de Bianca Byington, a pré-adolescente cruel que manipula a madrasta que deseja se aproximar dela, é um prato cheio para a psicanálise, com insinuações edipianas e, mais adiante, homossexuais. O filme possui ainda diversas simbologias que ajudam a desvendar seus enigmas, como a boneca que, ao ser quebrada, representaria o amadurecimento, o despertar sexual da garota; bem como a quebra do vínculo com sua mãe, que, apesar de ausente, é claramente um empecilho para o bom relacionamento entre a enteada e a madrasta.

A jovem atriz, que recebera o título de “Musa de Verão” pouco antes da estréia de Tormenta, foi premiada como melhor atriz coadjuvante no Festival de Gramado, e mais tarde fez bastante sucesso em telenovelas. O filme foi premiado ainda pela Associação Paulista de Críticos de Artes nas categorias melhor argumento, melhor roteiro, melhor fotografia e melhor montagem. O cineasta Uberto Molo, italiano radicado no Brasil, faria quatro anos mais tarde o seu segundo e último longa-metragem, Por Incrível Que Pareça, uma comédia com elementos de ficção científica.

Um comentário:

  1. Esse filme é uma das mais gratas surpresas do cinema fantástico brasileiro, ainda que pareça que faltou um pouquinho de habilidade ao diretor para conduzir algumas cenas, principalmente o final, que é bem interessante, porém não muito claro (mesmo em sua intenção de ambiguidade, poderia ser mais compreensível). Parabéns pelo excelente texto e por ajudar a divulgar essas belas e esquecidas obras do cinema nacional.

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