sábado, 30 de janeiro de 2010

Zombie 2: A Volta dos Mortos (1979)

A vida como maldição.

Um barco desgovernado chega a Nova Iorque aparentemente vazio. Quando dois policiais sobem a bordo para investigá-lo, são atacados por um homem com uma estranha moléstia, comedor de carne humana. Preocupada com o sumiço do pai, a filha do proprietário do barco viaja a ilha tropical de Matul com um repórter curioso que acabara de conhecer. Na ilha, um médico tenta descobrir o mistério por trás de um bando de cadáveres que, sem qualquer explicação, voltam à vida.

Quando me falavam de Zombie 2, limitavam-se a contar sobre a famigerada cena com o tubarão (ainda bem). Qual não foi a minha surpresa quando finalmente assisti ao filme e pude tirar minhas próprias conclusões. Inicialmente, estranhei o começo lento, com atuações um tanto fleumáticas, sem qualquer sinal de crescimento. Isto me fez pensar na importância da introdução de um filme, crucial para despertar um primeiro interesse no espectador, mas em seguida percebi que este ritmo seria mantido por toda a metragem.

Diferente da agitação desenfreada comum aos filmes de zumbis, cada cena de morte é um espetáculo solitário (tendo, talvez, como um dos objetivos destacar a maquiagem de Giannetto de Rossi), muitas vezes com detalhes de encher os olhos, como na cena em que uma vítima, na tentativa de escapar do ataque de um morto-vivo, empurra uma porta contra ele. Em uma parede, o reflexo da luz que vem de fora aumenta lentamente, conforme a vítima perde a luta.



Aliás, uma forte atmosfera de fracasso e desesperança domina o filme. Richard Johnson (que também fizera um doutor em Desafio do Além, 1963) interpreta o médico desesperado com os maus resultados de sua pesquisa, e que recusa a aceitar qualquer explicação mística ao acontecimento, no freqüente conflito entre ciência e religião.

O pessimismo e a poesia de Zombie 2 me lembraram em alguns momentos um dos melhores filmes do gênero: A Morta-Viva (1943), também ambientado em uma ilha tropical. São ainda comuns aos dois filmes os personagens malditos, como se a vida (ou a entre-vida) fosse uma espécie de maldição e, a morte, desejada.

9 comentários:

  1. Que bom, um texto sobre "Zombie" do Fulci que não fala só de gore, esquartejamento, nojo e trash! \o/ Nada como uma visão sensível e feminina para ver algo mais no filme, hehehe. O bom cinema italiano de horror sempre coloca estilo acima do roteiro, o efeito vale mais do que qualquer sentido de lógica. As cenas de morte de "Zombie" são mini-operetas de maneiras criativas de passar dessa para uma melhor. O italiano é obcecado pela morte espetacular (herança da ópera), e ninguém orquestrou isso com mais morbidez e crueldado do que Fulci.

    ResponderExcluir
  2. Nossa, obrigada! Como sempre, você acrescentou ótimas observações sobre o filme. :)

    ResponderExcluir
  3. A Fulci não interessava as conotações políticas de Romero, suas influências vinham do horror puro, tanto de filmes como de literatura. Por isso seu ZOMBIE é tão diferente. A famosa cena do tubarão cria o encontro perfeito dos zumbis de Romero com o Tubarão de Spielberg, que fazia muito sucesso na Itália nessa época. A cena do olho sendo atravessado também é muito marcante, pois a atriz Olga Karlatos tinha a fama de ter os mais belos olhos azuis do cinema italiano. E Fulci foi lá e fez aquilo, ele era um grande provocador.

    ResponderExcluir
  4. Poxa, bem bacana essa observação do Heráclito sobre os olhos da Olga Karlatos! Quando vi esse filme pela primeira vez - importei o VHS lançado pela Anchor Bay - fiquei ansioso que chegasse logo essa cena, pois fiquei doido com a beleza da atriz!
    No livro que tenho sobre o Fulci, escrito pelo Stephen Thrower, da FAB Press, essa cena é detalhada quadro a quadro, em duas páginas. Sádico!

    ResponderExcluir
  5. É notorio a fixação de Fulci por olhos! Observem em outros filmes dessa fase gore pós-zombie: os olhos que choram sangue em "Pavor na Cidade dos Zumbis", os olhos cegos em "The Beyond", o olho cortado por uma gilete em "New York Ripper" e por ai vai! Fulci era o cara!

    ResponderExcluir
  6. Ah, Blob, nesse quesito "ocular", ninguém é mais obcecado pelo tema do que o Mojica! Até escrevi um artigo sobre isso, hehehe. Mais uma semelhança entre os dois velhinhos radicais do horror! Abração.

    ResponderExcluir
  7. Ótimo comentário o do Heráclito. De fato, quando vi a Olga Karlatos, fiquei impressionada com seus olhos. Não seria mesmo à toa que um zumbi a matasse como matou.

    Quando o Blob falou sobre a fixação do Fulci por olhos, também me lembrei do Mojica. Conheço esse artigo escrito pelo Carlos. É uma relação muito interessante, sem dúvida!

    ResponderExcluir
  8. Olha só o que encontrei numa entrevista com Lucio Fulci no livro "Shock Masters of the Cinema", do Loris Curci:

    Pergunta: Em que os seus zumbis são diferentes dos de George A. Romero?
    Resposta: Simples: os do Romero são ideológicos; os meus são fantásticos. Os zumbis dos meus filmes derivam de I WALKED WITH A ZOMBIE, de Jacques Tourneur; eles nascem de tradições de pura fantasia e horror, zumbis sem inclinações políticas ou significados sociais. DAWN OF THE DEAD, de Romero, é uma condenação extremamente poderosa e provocante da sociedade capitalista na qual vivemos.

    (Páginas 68 e 70)

    ResponderExcluir
  9. Que legal encontrar este blog comentando sobre uma das obras-primas do cinema de horror. Se me permitem, vou dizer como conheci Zombie: não lembro exatamente o ano (79, 80 ou 81), mas recordo que foi num verão lá no saudoso cine Yara em São Vicente (SP)!!, que hoje virou Igreja Evangélica (talvez por causa dos filmes que passavam, rs). Chegamos numa turma da Colônia de Férias, a maioria adolescente, e o filme pra maiores de 18; alguns adultos que nos acompanhavam conseguiram convencer o porteiro, rs. Pois bem, na metade do filme eu nem conseguia olha mais para a tela, principalmente por causa da cena do olho! Era uma “festa” no cinema, com todo mundo gritando e a molecada afundando na poltrona de pavor absoluto! Pois bem, fiquei com aquele filme na cabeça durante anos e hoje, quarentão e casado, não é que vejo o filme em DVD nas bancas??? Realmente um resgate de um momento único da história do cinema de horror italiano e seus divertidos exageros. Grande abraço e valeu a todos pelas curiosidades! Sérgio

    ResponderExcluir