terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Sherlock Holmes (2009)

Os Aventureiros de Londres.

Enfrentei um verdadeiro dilema sobre escrever ou não um texto sobre Sherlock Holmes. Os poucos comentários que li e ouvi foram sempre os mesmos, e quase sempre correspondiam ao que eu pensava. Eu não queria chegar aqui com um texto óbvio, mas aqui estou eu, torcendo para que o texto não esteja tão óbvio assim!

Assim como a maioria dos fãs de mistério, cresci adorando histórias de detetives. Minha paixão evoluiu quando conheci os textos de Arthur Conan Doyle e seu personagem fascinante. Personagens fascinantes, aliás. Mesmo secundários, cada um dos personagens parecem pessoas perfeitamente possíveis, tamanha a complexidade de suas personalidades, com hábitos, manias e caracteres únicos.

Fui mais uma entre os fãs conservadores que torceram o nariz ao saber da nova adaptação das histórias de Holmes às telas. O trailer só piorou minhas impressões ao enfatizar a faceta “macho man” do detetive, mas, ainda assim, me pareceu uma transição respeitosa.

É complicado, depois de habituar-se à fisionomia de atores como Basil Rathbone e Peter Cushing, assimilar um Holmes como Robert Downey Jr., mas é possível. Seu Holmes é durão, excêntrico, palhaço e sentimental. Possui um sentimento, digamos, acentuado pelo amigo Watson, cujo noivado o incomoda fortemente. É deixada de lado a fleuma britânica e Holmes revela-se mais humano. Eu já disse durão?



Holmes sempre pronto para a porrada.


Destaque em demasia é dado às cenas de luta, sempre presentes nos momentos mais importantes da narrativa, mas, o que esperar de um filme de Guy Ritchie? A capacidade de dedução de Holmes aliada a golpes contundentes e muita câmera lenta, para o espectador poder apreciar em detalhes o monte de ossos quebrados.

A trama, sobre o líder de uma seita de magia negra e o seu retorno da tumba, beira o infantil. Não pelo suposto teor sobrenatural, claro, mas porque não há qualquer aprofundamento; o inimigo que supostamente apavora a população londrina não transparece qualquer ameaça. Como bem lembrou o Ailton, este tipo de vilão é característico da saga infanto-juvenil Harry Potter (com todo o respeito a Ralph Fiennes). Já as cenas de aventura possuem a complexidade e o teor recreativo da série Piratas do Caribe, com ações tão rápidas, que confundem os olhos do pobre espectador despreparado.

Sherlock Holmes entretém. Afinal, seria necessário um enorme empenho coletivo para fazer com que uma adaptação sobre o detetive mais interessante da literatura mundial fosse por água abaixo. Mas, honestamente, eu estava ansiosa por momentos climáticos, menos agitados, por mais atenção às investigações, aos assassinatos; um mistério instigante. O que obtive foi uma história de ação e aventura que quase remete aos filme de Chuck Norris (que não respeito coisa nenhuma).

20 comentários:

  1. Não vi ainda esse novo Sherlock Holmes (minhas idas ao cinema estão cada vez mais raras), mas sinceramente é desanimador imaginar um personagem dessa complexidade, que já enfrentou tramas adultas, como em ASSASSINATO POR DECRETO (que tem a conspiração que mais tarde foi "emprestada" por DO INFERNO), e mistérios de primeiríssima qualidade (O CÃO DOS BASKERVILLES), ser rebaixado a um herói de ação que enfrenta vilões estilo HARRY POTTER. Não sou contra a modernização de personagens clássicos, mas sou sim contra a imbecilização dos mesmos. O dia em que eu assistir a esse filme poderei dar minha opinião. Quem preferir histórias realmente inteligentes e de com produção de primeira linha, sem explosões nem perseguições espetaculares, recomendo a maravilhosa série MURDER ROOMS, da BBC.

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  2. Essa série da BBC é maravilhosa mesmo! O Arthur Conan Doyle é o protagonista, e são narradas histórias sobre ele e um professor que inspirou o personagem do Holmes, não é isso?

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  3. Exatamente. É quase uma biografia do Conan Doyle, com muitos acontecimentos verídicos sendo combinados com elementos de casos famosos do Sherlock Holmes. O professor do Conan Doyle faz o papel equivalente ao do Holmes, enquanto o próprio Doyle é uma espécie de Dr. Watson.

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  4. Isso, isso. Acho que só vi dois episódios. Vou correndo procurar os restantes!

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  5. Não sabia que você era conhecedora e apreciadora da obra de Conan Doyle, Bia. Eu nunca li nada dele. :/

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  6. Nem de longe sou grande conhecedora, mas gostaria de sê-lo. :)

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  7. Cara Beatriz, o filme me agradou, se bem que fui assistir com a expectativa perto do zero. Apesar das cenas de ação dispensáveis o roteiro me surpreendeu pela inúmeras referências aos contos de Conan Doyle e personagens do universo sherlockiano (o que quer dizer que os caras antes de fazerem o filme leram alguma coisa a respeito do personagem, o que já é um bom começo... hehehe). Os livros de holmes me encantaram na infância (tenho alguns guardados comigo até hoje), por isso posso afirmar que outra coisa que me chamou a atenção nesta nova versão é alguns aspectos da personalidade do detetive que geralmente são ignorados em outros filmes. De qualquer forma se quiser ler sobre o que achei do filme leia o meu blog: http://blogdoblob.zip.net/. No mais é isso abraços.

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  8. Blob, também gostei desses aspectos menos óbvios que o filme explorou, mas o que me incomodou não foram nem tanto as cenas de ação, e sim a falta de atenção que deram ao restante da trama.

    Abraço!

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  9. Cara Beatriz resolvi a charada! Coloquei um post com Hitchcock explicando a truffaut a função do Macguffin... espero que seja elucidativo, e que você tenha gostado...

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  10. Oi! Obrigada, mas, como já expliquei no seu blog, eu fiz uma confusão. Achei que estivesse dizendo que o "whodunnit" fosse um elemento narrativo semelhante ao que entende-se por McGuffin, por isso sugeri a relação entre os dois. Mas depois, relendo o seu texto sobre o filme, vi que tinha entendido errado o que havia dito sobre "whodunnit". Desculpe e obrigada pela iniciativa!

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  11. Bem, neste caso meu texto sobre Holmes pode estar confuso... Se for isso, eu é que devo me desculpar...

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  12. Não, não está confuso. Está muito bem escrito. Eu que fui desatenta mesmo.

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  13. Realmente o filme caminha mais próximo à ação e deixa a parte da investigação de lado. Mas isso foi uma decisão pensada. Dentro do que eles estavam propondo, o resultado não ficou ruim. Acho que foi uma experiência válida. Holmes é pugilista (embora ele não apareça dando porrada o tempo todo nos textos). Havia espaço para abordar esse lado mais "físico". É um filme de ação e quem não gosta do gênero jamais apreciaria. Mas aí comparar com o Chuck Norris já é um pouco demais. SHERLOCK HOLMES tem qualidade. Boa fotografia, cenários fantásticos, diálogos bem construídos, bons atores, uma montagem excitante... Na realidade, existem outras adaptações que me atraem bem mais. O que mais gosto nos textos do Doyle é essa coisa da gente ficar tentando adivinhar quem é o crimonoso da história, e isso tem muito pouco no filme.

    Quanto a parte do Harry Potter, vc e o tal Ailton terão que aprofundar a comparação. Acredito que não tenha entendido bem a relação. Poderia discutir horas a fio os profundos traços de Voldemort, o vilão de Harry Potter. Fico no aguardo desse debate.

    Beijo.

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  14. "Teremos" que aprofundar? Acho que a comparação é óbvia. O vilão é extremamente caricato. Pode ser que nos livros 'Você Sabe Quem' seja um personagem mais interessante. A minha base são os filmes. Mas, sinceramente, não tenho interesse em me aprofundar nisso, não. Não sei quanto ao Ailton.

    Obrigada pela visita, Lu!

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  15. Não sinto desejo de sair numa defesa míope dos filmes da saga Harry Potter. Tenho até muitas críticas quanto a condução e roteiro da maioria deles. Mas não vejo essa carga exagerada de superficialidade em Voldemort mesmo nos filmes. Na realidade, tratam-se de filmes infanto-juvenis (principalmente os primeiros), o que não quer dizer que por isso sejam ralos.

    Voldemort é uma espécie de Hitler bruxo. Ele é obcecado com a idéia de uma raça pura, de famílias formadas por indivíduos de sangue puro, além de ser totalmente contrário à mistura de espécies (humanos com gigantes, por exemplo). Ele quer subjugar os chamados "trouxas" em busca de um domínio bruxo sobre o mundo. Tem uma estreita ligação com as cobras, animais sempre associados às artes das trevas nos mais variados contos de fantasia, o que revela pesquisa na construção da personagem. Além disso, tem em seu nascimento e infância a resposta para alguns dos seus mais íntimos complexos e a raiz de sua maldade. E tudo isso está nos filmes.

    É claro que olhando com preconceito tudo pode parecer bobo e superficial. Ainda mais quando não se tem abertura para uma linguagem infanto-juvenil. Eu poderia me dedicar a discutir os elementos que apresentei sobre Voldemort muito mais profundamente, mas como não há o interesse pelo debate eu me satisfaço com isso.

    E não ache que eu tou chateada. É que aprecio uma boa polêmica.

    Beijo.

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  16. É, eu também não tenho muito interesse nos personagens de Harry Potter. Vi quase todos os filmes e só gosto do terceiro, justamente porque tem um traço mais autoral e diferente dos outros. O fato de eu não me importar muito pelos personagens ajuda também. Mas a semelhança do vilão de SHERLOCK HOLMES com os de Harry Potter me pareceu bem evidente.

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  17. "Ainda mais quando não se tem abertura para uma linguagem infanto-juvenil." Espero que não esteja insinuando isso de mim.

    Eu chamei de "infantil" no sentido pejorativo, pois não acho que aquele vilão tenha o nível de um personagem que Conan Doyle teria criado.

    Mas não tenho nada contra uma boa linguagem infanto-juvenil, e achava que você sabia disso.

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  18. O próprio Doyle dizia que Sherlock Holmes era uma personagem de segunda categoria... Não que eu concorde com ele, claro. Mas eu interpreto que o que ele tava dizendo era que não tava criando nada cult. E eu ainda não percebi nenhuma evidência da pouca profundidade de Voldemort. Não tá nada evidente, não. E não penso que o Cuarón tenha feito um trabalho tão bom no filme 3. É apenas o nome dele que agrega valor à obra. Mas deixem pra lá. Esqueçam. Abraços.

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  19. Bia, parabéns pelo Blog!
    Ficou super bonito e bem clean.
    Desculpe que ando meio sem tempo para comentar algum filme, mas sempre dou uma espiandinha!
    Ainda não vi esse Sherlock Holmes, mas parece que ele está mais pra Batman, do que Sherlock, pois dizem que o filme é bem movimentado. Não lembro de ver nenhuma cena nas chamadas com o personagem segurando seu inseparável cachimbo, uma das marcas registradas dele, ao menos nos filmes mais clássicos que eu assistia nas madrugadas antigamente.
    Eu gosto do Robert Downey Jr, achei que o cara ficou ótimo na adaptação do Homem de Ferro, mas não sei se ele convence como o famoso detetive... Não vou detonar muito sem assistir, mas essa necessidade de filme cheio de explosões e efeitos especiais exagerados que público têm, às vezes acaba ficando chato num filme desses.
    Sucesso no Blog!

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  20. Olá, Bia. Mas como "Holmista" de carteirinha e até um tanto quanto atrasado prá comentar, gostaria de dizer que apenas só me resta assinar em baixo do comentário geral do Carlos Primati. E o Robert Downey Jr. que me perdoe, assim como o diretor do filme e Cia. Ilimitada... mas, Sherlock Holmes sem arquétipo...? Acho que a série MURDER ROOMS, como foi citado, preenche melhor os quesitos. No mais, gostei do blog e da perspectiva de debater sobre um dos meus heróis mais queridos...

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