sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Cisne Negro (2010)

Todos nós conhecemos a história: uma garota virginal, pura e meiga, presa no corpo de um cisne. Ela deseja liberdade, mas apenas o amor verdadeiro pode quebrar o feitiço. Seu desejo é praticamente concretizado na forma de um príncipe, mas, antes que este possa declarar seu amor, a luxuriosa gêmea, o cisne negro, o engana e seduz. Devastado, o cisne branco sobe em um penhasco e se mata. Na morte, encontra a liberdade.

Em Cisne Negro, Natalie Portman interpreta Nina, uma dedicada bailarina de 28 anos, que nunca teve um papel de destaque na companhia de balé da qual faz parte. Depois de um sonho em que se vê dançando o clássico O Lago dos Cisnes, Nina é escolhida para o papel principal deste balé, cuja inovadora versão propõe um grande desafio para a bailarina que deverá protagonizá-lo: esta interpretará os dois cisnes, o branco e o negro. O primeiro, puro e inocente, e o segundo, cruel e voluptuoso.

Nos ensaios, Nina executa o cisne branco com perfeição, porém, não consegue entregar-se ao papel do cisne negro, cuja coreografia exige passos mais descontraídos, espontâneos e sensuais – diferente do que tradicionalmente propõe o balé, com passos milimetricamente calculados. A bailarina percebe que o sexo é o elemento libertador de que necessita para melhorar sua coreografia. Virgem e reprimida sexualmente, mergulha num processo psicológico de autocorrupção que a ajudará a incorporar o cisne negro. Críticos da revista americana New York elegeram Cisne Negro como um dos piores filmes de 2010 com o argumento de que “todos os conflitos do filme poderiam ser evitados se as personagens femininas tivessem uma vida sexual mais satisfatória”. Se todos seguissem esse raciocínio, o que seria de filmes como Repulsa ao Sexo (1965)?



A repressão sexual é sempre um tema interessante para o cinema e, quando vira assunto para filme de terror, costumamos ter um belo exemplar de horror psicológico. É este o caso de Cisne Negro, que nos mostra o balé como um duro universo, cuja perfeita dançarina em palco é, nos bastidores, uma mulher frágil física e psicologicamente, pressionada por seus colegas de trabalho e por seus familiares. No caso de Nina, sua mãe é uma ex-bailarina fracassada que acompanha de perto não apenas a carreira, mas também a vida pessoal da filha, como podemos observar na cena tragicômica em que Nina quase é flagrada pela mãe enquanto tenta libertar-se sexualmente através da masturbação.

Outro aspecto extremamente caro para mim em Cisne Negro é sua narrativa típica de um conto de fadas. O conto tradicional russo O Pato Branco é tido como uma das principais inspirações para o balé O Lago dos Cisnes. Apesar de o final do conto não ser trágico para a mocinha, como no filme, este tipo de desfecho é extremamente comum nesses textos. É o que mostram os contos do dinamarquês Hans Christian Andersen, por exemplo, cujas heroínas passam por maus bocados durante toda a narrativa e, ao final, transcendem através do sacrifício, encontrando na morte a liberdade. Um princípio cristão que encontramos em diversos destes textos conhecidos popularmente como “contos de fadas”.



Para contar essa história tragicamente maniqueísta, o diretor Darren Aronofsky vale-se de efeitos consagrados, como o uso de espelhos para simbolizar a dupla personalidade; além de insistir no uso do preto e do branco, cores lindamente manipuladas durante todo o filme.

Cisne Negro estréia hoje nos cinemas do país. O filme está concorrendo a cinco Oscar, entre eles o de melhor filme, melhor diretor, para Aronofsky e melhor atriz, para Natalie Portman, que já foi contemplada por este papel com o Globo de Ouro e o Screen Actors Guild.



Ah!, foram lançados lindos pôsteres do filme em estilo art déco. Confiram aqui.